PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
2/10/2007 |
O dólar chegou a R$1,81 ontem; a cotação mais baixa desde 2000. Assim como vem acontecendo nos últimos anos, dificilmente algum analista de mercado imaginava que, também em 2007, a moeda americana cairia tanto. Uma outra notícia da segunda-feira foi a queda de 18% na média diária no saldo da balança comercial. Já era esperado. Mas aumentam os sinais de que, depois de muito resistir, a balança começa a sentir mais os efeitos do dólar fraco. Por enquanto, é bem verdade, as exportações continuam em alta. Nessa mesma comparação, contra setembro de 2006, pela média diária, elas aumentaram 18%. O que está acontecendo é que, com o dólar fraco e o crescimento do consumo, as importações cresceram ainda mais; 38%. - O preço das commodities que o Brasil exporta ainda está aumentando, e o volume vendido também - diz Leonardo Miceli, da Tendências Consultoria. Miceli conta que, na primeira semana de setembro, o saldo comercial foi alto por causa da venda de uma plataforma de petróleo, mas depois ele só foi melhorar na última semana do mês, com o fim da greve dos fiscais sanitários. Para este ano, a Tendências espera que a balança chegue aos US$43 bilhões, menos que os US$46,5 bilhões do ano passado, mas mais que os US$40 que eles previam no início do ano. Aliás, não apenas eles. O gráfico abaixo mostra uma história interessante do que veio acontecendo ao longo do ano, segundo as previsões compiladas pelo Boletim Focus, do Banco Central. O curioso é que, enquanto as previsões para a média do dólar no ano vieram caindo - o que, normalmente, significaria exportações menores e menor saldo da balança - as expectativas para a balança foram subindo. - Todo mundo esperava que os preços internacionais das commodities, principalmente das agrícolas, iam começar a cair, mas eles se mantiveram, e alguns até subiram. O que perdeu dinamismo foi o aumento da quantidade. Cresceu a participação dos produtos básicos na pauta de exportações - comenta Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil. Ao longo do ano, houve gente no mercado que chegou a prever que o saldo em 2007 poderia ficar próximo até mesmo dos US$46 bilhões de 2006, mas as importações acabaram crescendo com muito mais força. De fato, seria difícil imaginar que, para sempre, a balança não sentiria os efeitos do dólar baixo. Um seminário organizado pelo Escritório da ONU contra Drogas e Crime vai discutir os "Desafios para o enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil" amanhã e quinta-feira, em Brasília. Um dos assuntos será o tráfico de pessoas que ocorre dentro do próprio país. Apesar de comumente relacionarmos esse tipo de crime com a exploração sexual, ele também pode ser visto em muitos casos de trabalho escravo, quando a pessoa é levada para outro lugar para exercer sua função em condições degradantes. No Brasil, muita gente ainda se recusa a reconhecer a gravidade desses crimes, como temos visto nos últimos dias. Portanto, aqui vão algumas informações: 2,5 milhões de pessoas, o equivalente à população da cidade de Salvador, são traficadas por ano no mundo. 80% das vítimas são mulheres e crianças. US$32 bilhões são movimentados por ano neste comércio criminoso. Ceará, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo são os estados mais envolvidos no Brasil. Nos dois primeiros, se dá grande parte dos aliciamentos e os outros dois são as portas de saída para o exterior. Entre 18 e 21 anos tem a maioria das mulheres vítimas de tráfico humano para fins sexuais. Na maior parte dos casos, são solteiras e têm baixa escolaridade. Eis que surge mais um expediente dos partidos aliados na busca pelo tesouro, digo, por cargos. Desta vez, alguns deputados e senadores estão ameaçando instaurar uma CPI da Petrobras caso não consigam mais espaço no governo, ou mesmo na própria Petrobras. Como mostrou reportagem de Chico de Gois, no domingo, realmente há muito o que se investigar nos megacontratos da estatal. Mas o difícil é imaginar que a nobre causa da transparência seja o que está movendo o grupo de pressão. |