O Estado de S. Paulo |
26/10/2007 |
O dólar não pára de afundar. Ontem fechou a R$ 1,7940, a cotação mais baixa desde agosto de 2000. Não é um fenômeno apenas brasileiro. O dólar despenca em relação às outras moedas fortes e às moedas da maioria dos países emergentes que operam com câmbio flutuante. Não há piso para a queda em relação ao real. A crise das hipotecas de alto risco (subprime) provocou vários efeitos colaterais. Um deles foi disseminar a percepção de que as economias ricas estão carregadas de problemas e de que a hora é das emergentes. Não são apenas os analistas do varejo que estão propagando a novidade. Os documentos das mais importantes instituições econômicas globais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, reconhecem que o crescimento econômico está cada vez mais dependente das economias emergentes. E a fartura de recursos e de crédito hoje existente no mundo acorre aos borbotões para os países emergentes. As perdas patrimoniais enormes infligidas pelo estouro da bolha das hipotecas subprime em princípio deveriam conduzir os capitais para aplicações tidas como seguras. Mas a maioria dos ativos do mundo está denominada em dólares e o dólar, como se vê, está em queda livre nos mercados. Nessas condições, não há muita opção segura disponível. Além disso, como os bancos centrais dos países ricos se mostram dispostos a socorrer os mercados a cada corrida para os guichês dos bancos, cresce no mercado global a percepção de que não há agora nenhuma conseqüência definitivamente ruim para quem busca opções de risco. Os dirigentes dos países industrializados, por sua vez, parecem paralisados. A reunião dos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do Grupo dos Sete, realizada há uma semana em Washington, não logrou coordenar uma só política de fortalecimento do dólar. O máximo que conseguiu foi fazer mais um daqueles apelos para que a China revalorize sua moeda (o yuan), o que mostra a atual dependência cambial do mundo rico. Assim sendo, o Brasil é o país emergente que, no momento, exerce natural atração nos mercados ("Everybody loves Brazil" - começa uma análise desta semana do Morgan Stanley, Global Economic Forum). Por isso, está na mira dos detentores de dólares, o que puxa mais para baixo as cotações do câmbio interno. Apesar da retórica em contrário, a equipe econômica do governo Lula começa a mostrar sinais de preocupação com a valorização excessiva do real, especialmente quando se aproxima o nível ideal de reservas (de US$ 180 bilhões, pelas contas do ministro da Fazenda, Guido Mantega). De fato, é preciso outro mecanismo destinado a evitar mais perda de competitividade do produto nacional lá fora. A idéia em gestação no Ministério da Fazenda é criar o tal fundo soberano cuja principal função não é conseguir melhor remuneração para as reservas, como tem sido dito, mas manter os dólares lá fora e, assim, evitar que afundem as cotações no câmbio interno. Mas sua arquitetura financeira não encontrou solução para a questão fundamental: de onde tirar os recursos fiscais com os quais adquirir os dólares para compor o fundo? A verdade é que o governo Lula ainda não sabe como conter a queda do dólar.
Zero indício - A Ata do Copom ontem divulgada não autoriza nenhuma projeção confiável para o tempo de duração da pausa que interrompeu, no dia 17 de outubro, a seqüência de afrouxamento dos juros que vinha desde setembro de 2005. São duas as preocupações da hora: consumo crescendo, podendo criar inflação de demanda se os investimentos não maturarem a tempo e a importação não for suficiente; e economia mundial sujeita aos solavancos da crise dos subprime. Esperar para ver é a atitude do Banco Central para este resto de ano e para o próximo. |