O mercado financeiro se acalmou após a redução do juro americano, a crise do crédito imobiliário caminha para uma solução em médio prazo, o euro superou a marca de US$ 1,40 e o preço do barril de petróleo passou de US$ 84, recuando um pouco depois, para US$ 81,28. É um nível talvez insustentável, mas a leitura geral do mercado é de que US$ 80 é o novo patamar.
Tudo ajuda nesse sentido: o agravamento das tensões políticas no Irã, que persiste na busca da bomba atômica, a ameaça de bombardeio dos seus centros nucleares, oferta de petróleo da Opep menor que a demanda, estoques mais reduzidos nos EUA e a estação dos furacões, por ora uma ameaça.
Um barril de petróleo acima de US$ 80 - muitos analistas estimam que fechará o ano a US$ 85 - significa um risco para a economia mundial, principalmente porque afeta países altamente dependentes, como a China, o único a sustentar, hoje, o crescimento global. Se ela recuar, o mundo recua.
A economia mundial tem se mostrado mais resistente a esses preços, mas essa resistência será contestada se eles continuarem subindo e se aproximarem de US$ 90.
BRASIL TAMBÉM SOFRE
Para o Brasil, um petróleo nesse preço também vai pesar muito. Temos petróleo, sim, mas a Petrobrás pratica o preço internacional mesmo para o petróleo extraído no Brasil, isto é, repassa-o internamente, após convertê-lo em real. E isso nas taxas atuais do real supervalorizado. Por enquanto, esse aumento ainda não está sendo repassado, mas será logo mais. Com um preço de US$ 80, ganham a Petrobrás, assim como todas as empresas de petróleo, o governo, que abocanha uma boa parte do preço com impostos, e perdem o consumidor e a economia nacional.
CONGELAMENTO NA CHINA
Esses preços pesam muito para a única economia, a chinesa, que ainda sustenta o crescimento mundial. E já está sentindo isso. Na sexta-feira, o governo chinês anunciou o congelamento dos preços dos principais produtos de consumo para tentar conter uma inflação que já passa de 4%. A ordem foi categórica: os preços não podem aumentar e haverá punições severas para quem burlar a lei. Não vai funcionar, mesmo numa economia num regime totalitário. O medo, em si, não vai atenuar o ânimo de uma população que, nos últimos anos, aprendeu a se alimentar mais. O governo terá de continuar prendendo ou executando infratores, ao mesmo tempo em que intensifica o subsídio aos preços internos.
Nem isso, porém, vai impedir novas pressões inflacionárias e medidas de contenção econômica. O que seria mau para todos, pois a China absorve grande parte da produção mundial, principalmente de commodities, exatamente essas que mais importam do Brasil.
EUROPA TAMBÉM
Na Europa, também, o cenário, na semana passada, não era animado. Em conseqüência mais direta da nova taxa de juro nos EUA, o euro fechou a US$ 1,41. Ao mesmo tempo, institutos de pesquisas registraram na sexta-feira uma forte desaceleração do crescimento na zona do euro. Foi o maior recuo desde 1991. E isso devido à redução do consumo interno. Tudo indica que a valorização do euro já está reduzindo as exportações e a economia européia.
MAS ISSO IMPORTA?
Sim, e muito; para o mundo e, principalmente, para o Brasil.
A zona do euro, que tem uma população, toda ela consumidora, de 375 milhões de habitantes, representa 15% do PIB mundial. E ela, com a China, é a única esperança de substituir parcialmente os EUA na sustentação do crescimento mundial. A União Européia (UE), na qual a zona do euro tem predominância definitiva, lidera a lista dos nossos destinos de exportação.
De janeiro a agosto, nossas vendas para a comunidade totalizaram US$ 25 bilhões, um número ridículo na sua insignificância global, mas que representa nada menos que 26,2% de todas as nossas exportações no período. Se a economia européia parar de crescer, nossas mirradas vendas vão mirrar ainda mais.
EUROPA E EUA, 44,4%
Entre janeiro e agosto, exportamos para os EUA o equivalente a US$ 16,4 bilhões. É pouco, pois eles importam cerca de US$ 2 trilhões, mas é muito, pois representa 18,2% das nossas vendas. É que também exportamos pouco para o resto do mundo. Representamos apenas 1,2% de um mercado mundial de US$ 11 trilhões. Esses resultados mostram que os EUA e a UE representavam, até agosto, nada menos que 44,4% das nossas vendas externas.
Se a União Européia seguir a desaceleração americana, e tudo hoje indica que sim, certamente nossas vendas externas, já prejudicadas pela valorização do real, vão sofrer. E, com elas, o aquecimento da economia nacional, que não depende, como estão afirmando em Brasília, só do consumo interno, mas também das vendas num mercado mundial de US$ 11 trilhões, no qual não representamos mais do que 1,2%. Nada de nada. Esta é base de sustentação do crescimento nacional.
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