sábado, julho 28, 2007

Miriam Leitão 'Más allá del juego'

Para nós, é uma grande vitória disputar com Cuba ouro a ouro no quadro de medalhas. Para eles, é mais um aviso da decadência esportiva.

Em Cuba, o uso político do esporte vem de antes de Fidel, mas, 18 anos depois do fim do regime soviético, é admirável o desempenho dos atletas cubanos. Esporte em Cuba é ideologia, política, educação, orgulho e controle da juventude.

As estatísticas de medalhas de Cuba já mostram que o país sente o fim da União Soviética, que financiou, treinou, e organizou torneios para fazer de Cuba uma vencedora. O tema da redução de vitórias, desorganização do apoio aos atletas, migração de treinadores, e as deserções dos esportistas tem sido discutido em Cuba e é considerado assustador.

O que mais os ameaça é que o país tenha uma derrota humilhante nas Olimpíadas de Pequim. A delegação veio para o Brasil de olho na disputa mundial de 2008.

O que está acontecendo no esporte cubano é complexo e há muito o que aprender com Cuba. Afinal, eles ainda mantêm um desempenho excelente, mesmo sendo um país pobre e que enfrenta os rigores de um esclerosado bloqueio econômico. Os atletas cubanos não têm acesso a certos aparelhos e equipamentos indispensáveis nos avanços tecnológicos do esporte de hoje. Num artigo do site “Cuba a la mano”, há uma série de dados e histórias sobre a crise do esporte no país. Nele, contase que o presidente da Federação Cubana de Basquete, Ruperto Herrera, queixouse de que, após o fim da União Soviética, eles têm tido dificuldade de ter cestas, cronômetros, calçados esportivos apropriados, aparelhos técnicos auxiliares.

A Lei Helms-Burton impede até a importação de matéria-prima dos Estados Unidos para a fabricação desses produtos. Importar da Ásia é mais caro e mais difícil. O ciclismo não tem conseguido peças de reposição e, por isso, uma etapa importante do circuito, La Farola, há anos não pode ser disputada. A falta de equipamentos também prejudicou a ginástica, e eles vieram para o Brasil temendo a disputa.

A dimensão política do esporte vem de muito antes de Fidel. O beisebol virou esporte nacional, quase religião, desde a luta anticolonialista no século XIX, escreveu o novelista cubano Leonardo Padura no artigo “Algo mais que um jogo”. Nos anos 40 do século XX, o esporte foi manipulado politicamente por Fulgêncio Batista; depois de 1959, Fidel Castro usou o beisebol como mais um ponto da disputa contra os Estados Unidos e de afirmação do nacionalismo.

Fidel sempre foi apaixonado por beisebol, mas a estratégia do regime cubano em relação ao esporte tinha uma dimensão muito maior.

“O esporte é, sobretudo, um instrumento de disciplina, de educação, de saúde, de bons costumes. O esporte é um antídoto ao vício. A juventude precisa dele”, disse Fidel Castro, em 1977, no IX Congresso Mundial de Esporte para Todos.

E Cuba levou isso a sério no seu sistema educacional, integrando o esporte como uma parte da educação.

A base da pirâmide da formação de campeões é a escola primária. Depois, os mais talentosos seguem para as escolas de iniciação esportiva. Ultimamente, algumas dessas escolas fecharam por falta de recursos.

Entre 1960 e 1990, o apoio da União Soviética aos atletas e ao esporte de Cuba fez da ilha uma potência sem rival na América Latina. Parte da preparação era realizar torneios nos países comunistas.

Isso levou Cuba a disputar o quadro de medalhas com as grandes potências, apesar de ser o que é: uma ilha pequena, de PIB miúdo.

Outro golpe que tem sido cada vez mais freqüente é a deserção dos atletas quando eles participam de competições internacionais.

Além de desfalcar as equipes, isso bate direto na auto-estima do torcedor cubano, como ocorreu em 1999, na deserção dos principais titulares do time de basquete. Chamados de “traidores” pelo regime, os atletas que fogem raramente conseguem ter muito sucesso longe do seu país.

Tudo em Cuba está em transição. Como será o esporte numa Cuba com mais liberdade de ir e vir? Como será o esporte sem Fidel? O lado luminoso da história do esporte na ilha é que ele mostra que, uma vez formada a base, uma geração forma a próxima geração. A que está neste Pan não viveu a abundância do tempo soviético e, convenhamos, ainda dá um show