Não sei se resolve ou não o caos aéreo (e terrestre) brasileiro a sugestão da associação internacional dos controladores de vôo de chamar os gringos para pôr ordem no que os tapuias não estão conseguindo. Mas está evidente que qualquer um com ao menos um neurônio não pode confiar nas autoridades do setor, pela catarata de incoerências e contradições em que caem, dia sim, outro também. Para começar, temos uma certa Denise Abreu, diretora da Anac, que se recusou em entrevista à Folha a "linkar" acidente com sistema aéreo, porque, segundo ela, "o acidente não tem nada a ver com o número de vôos em Congonhas". Aí, vem o governo que a nomeou e diz que, sim, a segurança tem a ver com o número de vôos em Congonhas, tanto que vai reduzi-los em nome da segurança mesmo ao custo de eventual aumento no preço das passagens. Depois, o presidente da Infraero, José Carlos Pereira, descobre, 200 mortos depois, que "segurança tem que vir em primeiro lugar". E ainda insiste que não está dizendo que o aeroporto estava inseguro. Apenas que "chegou a hora de tomar medidas cautelares". O que autoriza qualquer um que saiba ler a acreditar que, antes, não havia essa margem de cautela adicional, que é o mínimo que se pede nessa como em tantas outras matérias de que o governo (sucessivos governos, aliás) descuidaram. Completa o quadro a criminosa irresponsabilidade da Anac ao apontar "falha humana ou de operação" no acidente, em ofício à Justiça, sem que tenha nem sequer começado a apuração das causas. É um órgão do governo, responsável pela segurança do vôo, adotando fuzilamento sumário. Pior: está fuzilando mortos. É uma covardia que, em qualquer país com um mínimo de civilização, resultaria em demissão sumária. Mas é o Brasil, primitivo. |