A transmissão de energia sem o uso de fios
abre caminho para a casa com uma só tomada
Leoleli Camargo
VEJA TAMBÉM
|
A tecnologia sem fio tornou o mundo portátil através de celulares, laptops e iPods. O único inconveniente desses aparelhos é que eles precisam ser constantemente ligados a tomadas elétricas para recarregar suas baterias. Uma experiência divulgada na semana passada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostra que está próximo o dia em que esse procedimento se tornará obsoleto. Os pesquisadores do instituto conseguiram enviar energia elétrica de um ponto a outro de uma sala – e acender uma lâmpada de 60 watts – sem usar fio algum. Na experiência, patrocinada em parte pelo Departamento de Defesa americano, foram utilizadas duas bobinas de cobre, uma ligada à rede elétrica e a outra acoplada à lâmpada. Ambas foram projetadas para reverberar na mesma freqüência: 10 MHz. A energia viajou de uma bobina para outra por indução magnética e a lâmpada se acendeu. O teste foi repetido com sucesso mesmo quando se colocaram obstáculos de madeira e de metal entre a lâmpada e a bobina emissora de energia. Quando o sistema criado pelo MIT for aperfeiçoado, será possível carregar baterias de vários aparelhos numa mesma casa ao mesmo tempo (veja o quadro). No futuro um pouco mais distante, o sistema, batizado de WiTricity – de wireless electricity, ou eletricidade sem fio – poderá eliminar a necessidade de fios em todos os eletrodomésticos.
A transmissão de energia sem o uso de fios não é propriamente algo inédito. No início do século XX, o cientista americano de origem sérvia Nikola Tesla, o inventor do motor de corrente alternada, fez experiências com a eletricidade sem fio. Embora suas idéias tenham empolgado o banqueiro J.P. Morgan, o que lhe garantiu um gordo patrocínio para pesquisas, elas não resultaram em inventos viáveis. Atualmente, usa-se a indução para transferir energia de um ponto a outro apenas entre distâncias muito curtas, como no caso da escova de dentes elétrica e seu carregador. O que torna a pesquisa do MIT inovadora é que pela primeira vez se consegue transmitir eletricidade de forma eficiente a uma distância bem maior do que poucos centímetros. O desafio agora é aumentar a distância entre as bobinas sem prejudicar a transmissão de energia. É preciso também melhorar a eficiência da transmissão – de cada 100 watt enviados pela bobina emissora, apenas 55 watts chegam à receptora. "Já sabemos o que precisa ser feito para aperfeiçoar o sistema", disse a VEJA o físico André Kurs, um dos participantes da pesquisa, que é carioca e cursa doutorado no MIT. "E estamos desenvolvendo a tecnologia necessária para isso."