sábado, junho 16, 2007

Corrupção O que já se sabe sobre Vavá e seu amigo Dario

Dupla do barulho

Vavá e Dario: o que se sabe e o que ainda falta
descobrir sobre o irmão e o compadre de Lula


Camila Pereira

Dida Sampaio/AE
Dario Morelli, com sua mulher, depois de ser libertado: sociedade no jogo

Genival Inácio da Silva, o Vavá, e Dario Morelli. Essa dupla promete. Indiciados por crimes que vão de tráfico de influência a corrupção, o irmão mais velho e o compadre do presidente Lula estão envolvidos até o pescoço no submundo da máfia do jogo, desbaratada na Operação Xeque-Mate, da Polícia Federal. Na semana passada, começaram a vir a público trechos de diálogos telefônicos interceptados pela PF. Além do indiciamento e dos grampos, um relatório da polícia, entregue à Justiça na última quarta-feira, reafirmou a participação de Vavá e Dario em atividades clandestinas. Até o momento, sabe-se que:

• apesar de "não ter cabeça para fazer lobby", segundo afirmou Lula, Vavá oferecia serviços assemelhados em órgãos do Executivo e do Judiciário. Tinha até um agente, o dono de máquinas de caça-níquel Nilton Servo, também preso na operação e apontado pela polícia como chefe da máfia do jogo. Nos grampos, Servo é flagrado alardeando a empresários os contatos de Vavá em Brasília. Em troca, o irmão do presidente pedia dinheiro a Servo: "Ô, arruma 2 pau pra eu (sic)", diz Vavá nas gravações.

• A família de Lula, bem como o próprio presidente, tinha conhecimento de parte das atividades de Vavá. Em uma conversa interceptada em maio, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, outro irmão de Lula, disse a Vavá que o presidente queria encontrá-lo para adverti-lo: "Tem uma bronca lá, que você anda apresentando uma pessoa lá no ministério".

• Dario Morelli é sócio de Nilton Servo em uma casa de jogos, no litoral de São Paulo. O compadre de Lula, que foi solto na semana passada, também é acusado no relatório da PF de "fazer o pagamento de propinas a policiais".

• Tanto Dario Morelli como Servo tinham o hábito de explorar a proximidade com a família presidencial e com dirigentes do PT, sugerindo a seus interlocutores que dispunham de influência política. Em uma conversa com um cunhado, Servo afirma que está levando o "filho do homem" para Mato Grosso do Sul. Diz Servo: "Já tive um fim de semana junto, eu tô ficando bem dentro do negócio".

Ainda há muito a ser desvendado. Cabe agora à polícia apurar:

• se Vavá conseguiu levar adiante algum dos projetos que ajudou a apresentar a órgãos públicos em Brasília;

• se o irmão do presidente era apenas um "prestador de serviços" eventual ou tinha um envolvimento maior com os negócios da máfia. Na região do ABC paulista, Vavá é tido como sócio de Dario Morelli na exploração do jogo ilegal;

• quem é o "filho do homem" citado por Servo em um dos grampos. E se essa pessoa também mantinha ligações financeiras com Servo e sua turma da pesada.

Há também outro mistério que os federais poderiam ajudar a desvendar. As investigações sobre o episódio do dossiê contra os tucanos, protagonizado por petistas durante as eleições do ano passado, indicavam que parte do dinheiro usado na tentativa de compra do documento provinha de jogos ilícitos. Será que Dario Morelli – que participou das campanhas políticas de Lula e do candidato derrotado ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante – saberia dar alguma informação sobre o assunto?

Monica Zarattini/AE
Monalisa Lins/AE
Vavá (à esq.), o homem do "Arruma 2 pau pra eu?", e o irmão, Frei Chico: "bronca" em família