KÜHLUNGSBORN - O circo do G8 foi embora, a sorveteria na esquina do Centro Internacional de Mídia já não vende o "Eis G8" (sorvete G8), os aposentados, que são, ao menos por enquanto, a clientela majoritária deste balneário no Báltico, podem dar seus lentos e intermináveis passeios sem maiores sustos do que ver uma ou outro jogar-se pelado/a na água.
Fica realmente alguma coisa dessa formidável mobilização de governantes, assessores, jornalistas, seguranças e toda uma imensa corte de auxiliares? Para alguns, certamente fica: uma moça portuguesa que estuda canto em Rostock (a 30 km) ganhou um extra como auxiliar no atendimento à delegação brasileira. Como ela, uma boa centena de outros jovens, de roupa impecavelmente branca, sorriso permanente e cortesia também impecável.
Fica também um baita debate em torno dos assuntos que, bem ou mal, muito ou pouco, formam a agenda global.
É verdade que a mudança climática ocupou o centro da agenda por conta do apocalíptico relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Mas a cúpula do G8 deu novo fôlego à discussão ao transformar o tema no seu assunto principal.
O problema é que o debate mais rico se dá antes de os governantes chegarem, dentro e fora do perímetro de segurança que cerca sempre reuniões do gênero. Fora, nos ricos encontros de organizações da sociedade civil. Dentro, entre os funcionários que preparam tudo para que seus chefes assinem e posem para a foto tipo álbum de família.
Na hora da cúpula propriamente dita, o texto acaba sendo caudaloso e genérico demais. O mundo poderia perfeitamente viver sem ele. Mas seria mais pobre sem as discussões prévias. Ficaria mais rico se os governantes criassem coragem para tomar decisões em vez de apenas debater questões complexas.
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