terça-feira, maio 01, 2007

DORA KRAMER No bloco do eu-sozinho


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem se notabilizado pela pregação solitária pela defesa de alguma idéia com começo, meio e fim dentro de seu partido, o PSDB. No lugar de apoio, recebe críticas públicas, quando não menções irônicas, dos correligionários mais interessados em andar no banco do carona da popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva do que propriamente em fazer uma vida partidária não referida exclusivamente em eleições.

Agora é a vez do senador Cristovam Buarque abraçar tarefa semelhante, candidatando-se a ponta de lança de mais um bloco do eu-sozinho. O senador pedetista assiste com preocupação à mobilização do PDT, do PSB, do PV e do PC do B, para lançar um manifesto em que ao mesmo tempo apóiam o presidente Lula e buscam firmar posição diferenciada do PT.

Cristovam gosta da movimentação política e acha ótimo que os partidos se juntem para apresentar alternativas eleitorais no campo da esquerda ao País. Mas o senador não aprova a maneira como isso está sendo feito, não acha que políticos devam ter como meta única a disputa de eleições e aponta a absoluta ausência de idéias no grupo. O único objetivo visível até agora é, na concepção dele, se contrapor ao PT e nada mais.

“Pelo que tenho ouvido nas conversas para as quais sou chamado, esse pessoal diz que é contra o PT, mas não diz a respeito do que é a favor. Do jeito como as coisas estão postas, parece mais uma proposta de cunho eleitoreiro para isolar os petistas sem perder o apoio do presidente Lula”, diz, ele mesmo citado junto com Ciro Gomes como uma das possibilidades de candidato presidencial desse bloco em 2010.

Pregador da “revolução pela educação” na campanha presidencial de 2006, Cristovam Buarque continua a mesma toada e com ela prosseguirá insistindo dentro do chamado “bloquinho”, para que à bandeira da “igualdade de oportunidades” por meio da melhor educação que se puder dar à população acrescente-se a questão ecológica.

“São os temas do futuro e não vejo nenhum debate sobre isso. Só enxergo o interesse no antismo”, diz o senador, referindo-se não às antas, mas aos “anti”.

Na opinião dele, o bloco não vai a lugar algum se não tiver bandeiras muito bem definidas, se não souber se apresentar à sociedade como uma alternativa de poder muito bem posta. Na canoa do “contra” PT o ex-petista Cristovam Buarque já avisa que não embarca.

Avisa que com isso não está pretendendo pavimentar caminho para eventual volta ao partido. “Nem pensar.” Quer apenas deixar a porta aberta para atrair militantes petistas que, segundo ele, “devem também estar à procura de alternativas e de boas causas para defender”.

Se esse campo que se apresenta como novo não disser ao que pretende vir, não haverá atrativo para o eleitorado. “Precisamos criar um magnetismo que só se materializa em idéias específicas e de interesse da população”, diz.

Quanto ao apoio ao presidente, Cristovam, apesar de todas as divergências, aceita que esteja no horizonte do bloco, mas não como preliminar. “Precisamos das bandeiras antes. No que o presidente agir em conformidade com elas, daremos apoio. Quando atuar em desacordo, ficamos no campo adversário. Não podemos é nos conduzir em torno de pessoas.”

O mal que acomete o bloco dito de esquerda, na visão de Cristovam Buarque, assola a política como um todo.

“Os intelectuais estão calados, a opinião pública informada está perplexa e os políticos dividem-se entre adesistas e oposicionistas sem causa”, diagnostica, ressalvando como exceção o Democratas/PFL, “hoje o único partido ideológico, alinhado ao liberalismo”. “É a alternativa a esse projeto e à utopia que os dirigentes do PT puseram a perder que precisamos ser competentes para apresentar ao Brasil.”

Desencontro marcado

Os “demos” querem investigar a Infraero, mas os tucanos acham melhor ir devagar; os “demos” querem recorrer ao Supremo Tribunal Federal para assegurar um posto de comando, mas os tucanos acham melhor seguir o regimento; os “demos” preferem a arena do Senado, mas os tucanos privilegiam o palco da Câmara.

O que divide os oposicionistas sobre a CPI do Apagão Aéreo já sabemos. Falta saber o que os une.

Ato raro

O abatimento moral fez os funcionários do Superior Tribunal de Justiça cancelarem a festa dos 18 anos do tribunal, porque consideraram o momento - a denúncia contra o ministro Paulo Medina por envolvimento no esquema de venda de sentenças judiciais a banqueiros de jogos ilegais - impróprio para festas. E é.

O gesto contrasta com a indiferença dos outros dois Poderes a esse tipo de resguardo. Quando alvos de constrangimentos éticos ou até mesmo escândalos cabeludos, Executivo e Legislativo não costumam se retrair. Ao contrário, reagem com agressão aos acusadores e, quando têm de se esbaldar, o fazem em público sem o menor constrangimento.