BRASÍLIA - Brasília faz 47 anos hoje. Estou aqui há 11 anos. Conheço a cidade. Conheço os locais. Vivi oito anos em um bairro empoeirado, de ruas encardidas, sem calçadas e poucas árvores. Chama-se Sudoeste. Sua via principal assemelha-se à avenida Cupecê, ligação de São Paulo a Diadema.
O Sudoeste é considerado o melhor bairro de Brasília. Compreensível. Está perto do aeroporto. Saí de lá. Agora moro no Lago Sul, cujo curioso nome é a sigla SHIS (Setor de Habitações Individuais Sul).
Na nova casa, conheci outra vizinhança. Alguns gostam de edificações copiadas de projetos arquitetônicos famosos, como a Casa Branca (isso mesmo, a sede do governo dos Estados Unidos). Também é generalizado o apreço por lareiras. Outro dia, um lago-sulista relatou-me seu prazer ao acender a lareira e passar a noite ali mesmo, deitado em frente ao fogaréu.
Em Brasília, faz quase sempre um calor subsaariano. Você pensa que está na capital do país, mas encontra-se no interior de Goiás. Nem índios viviam aqui antes da tresloucada idéia de JK. Há pouco a ser feito agora. Em 150 anos os problemas talvez se diluam. O aquecimento global trará o mar para as redondezas. O clima será mais úmido.
Até lá, Brasília continuará uma disneylândia para os barnabés -os funcionários públicos no jargão candango. É raro numa festa, mesa de bar ou encontro social não haver alguém interessado em "prestar concurso". Sob Lula, mais de 33 mil foram admitidos "por concurso".
Dá-se risada da situação. Há no momento uma peça em cartaz no Centro Cultural: "Como passar em concurso público". Sim, é uma comédia. A rigor, uma tragédia.
Brasília é a síntese do aforismo "no Brasil, o Estado nasceu antes da sociedade". Em Brasília, o Estado é a sociedade. Há uma falta de ambição sufocante no ar, exceto se for para "prestar concurso". Socorro.