sábado, março 31, 2007

RUY CASTRO

Jogo perigoso
RIO DE JANEIRO -
Como se não bastassem os fantasmas da vida real -eu sei, é um oxímoro, mas os oxímoros, contrariando sua própria natureza, existem-, vêm aí os fantasmas da vida virtual. E esses é que são mortíferos.
Na terça-feira, um senador pelo Amazonas convocou a depor no Congresso um laboratório americano que estaria descaradamente propondo pela internet a internacionalização da Amazônia. O tal laboratório seria o Arkhos Biotech, uma multinacional dedicada a extrair ativos vegetais para a indústria de remédios e cosméticos -aquela que, não contente em drenar a floresta, asfixia nossas ruas com sua média de quatro ou cinco farmácias por quarteirão.
Ao fim e ao cabo, descobriu-se que o solerte laboratório não existe. Não no nosso mundo, pelo menos -mas não é assim tão simples. O Arkhos é uma empresa fictícia, que faz parte de um jogo virtual num site, este, sim, real. O dito jogo trata da luta pela fórmula secreta de um guaraná -o qual, por sua vez, existe de verdade e é seu patrocinador. O laboratório seria o vilão da história, algo assim como a Spectre para James Bond, e tão real quanto. Ao mesmo tempo, se bem entendi, os heróis pertencem a um grupo ambientalista chamado Efeito Paralaxe, também fictício, mas que fez um protesto "real" durante a recente vinda de Bush ao Brasil.
Entendeu? Ou seja, é um videogame que, ao abolir as fronteiras entre o real e o virtual, mostrou que, se você não ficar esperto, ele pode interferir na realidade. No caso, alterando a rotina do Congresso.
Nos anos 60, Stanislaw Ponte Preta chamou a hoje inofensiva televisão de "máquina de fazer doido". Ele odiaria a internet. Mas a internet adoraria o apresentador Chacrinha, com seu profético bordão: "Não vim para explicar, mas para confundir".