quinta-feira, março 29, 2007

Indústria, o patão feio do PIB "novo"



Artigo - Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
29/3/2007

Em relação ao PIB, indústria de transformação se arrasta no ritmo de anos em que país viveu tumultos econômicos

NUM DIA DE PIB e IBGE, a sigla mais surpreendente acabou sendo BC, de Banco Central, que divulgou ontem o seu relatório trimestral de inflação em um tom mais otimista tanto no que diz respeito a preços como a crescimento.
É claro que os banqueiros centrais do Brasil, como de quase qualquer outra parte, deitaram água no vinho, ou no chope, para tornar a metáfora mais local. Avisaram de novo que vão continuar a reduzir a meta da Selic devagarinho, pois o país não tem juros tão baixos faz décadas, o que é fato, e teme-se (o BC teme, ao menos) que a economia desembeste de modo perigoso etc. Mas a tendência dos preços administrados e a das expectativas de inflação é de queda.
Mas o BC elevou sua estimativa de crescimento de 3,8% para 4,1%, na métrica do PIB "velho". Ainda é muito difícil estimar quanto isso pode significar na régua do PIB "novo", apurado a partir das informações adicionais e segundo o novo método do IBGE. Mas contas preliminares precárias (não temos nem o PIB do início deste ano) indicam que já não é desarrazoado pensar em crescimento de 4,5% este ano.
Dadas as novas estimativas de inflação, taxa de juros e o tal chute razoável para o crescimento, a dívida pública deve cair para entre 42% e 43% do PIB no final do ano. Não é motivo para o governo gastar mais, mesmo porque a revisão das contas nacionais indica que a despesa da administração pública (fora transferências) está crescendo na mesma velocidade da economia.
Além do mais, o fato de a carga tributária parecer agora contabilmente menor em nada afeta seu efeito real e negativo sobre empresas, emprego, consumo dos mais pobres e nível de formalização da economia.

Indústria
A indústria de transformação, nome que as estatísticas dão para aquilo que mais comumente se conhece como fábrica de bens de consumo, é o grande pato feio da revisão do PIB. Cresceu ainda menos do que se imaginava, ultrapassada ainda mais de longe pela indústria extrativa mineral.
Não é incomum haver discrepância entre os ritmos de atividade das indústrias de transformação e extrativa. Mas, desde o primeiro trimestre de 2005, tem havido também diferença de tendência (a extrativa crescia muito, a de transformação caía, algo inusual em duas décadas). Embora o alerta seja relevante, o diagnóstico de desindustrialização é precário, dado o período curto de dados disponíveis para análise. O problema, decerto, é que, se confirmado o prognóstico mais pessimista, vai ser tarde para agir.
Por fim, o ritmo do investimento produtivo (vide gráfico) apareceu ainda melhor na foto. Mas ainda é baixo e acelera praticamente no mesmo padrão das recuperações econômicas que não foram abortadas por fobia de inflação.