Numa rara conversa com jornalistas, ontem, num café da manhã no Planalto, Lula descartou a hipótese de promover ou admitir mudanças na Constituição para poder disputar um terceiro mandato nas eleições de 2010. A frase do presidente é um registro importante, a ser devidamente gravado para eventuais cobranças futuras. Lula, primeiro, disse que a hipótese de um terceiro mandato é "muito improvável e inexequível". Lembrado de que "improvável" não significa "impossível", foi mais incisivo: "Eu acho impossível. Nada é impossível, mas não tem hipótese. É brincar com a democracia". A conversa não foi gravada, só anotada, e pode haver nuances entre uma publicação e outra, mas o fato é que a fala do presidente não deixa dúvidas: ele considera essa história de terceiro mandato, à la Hugo Chávez, uma brincadeira de mau gosto. Pior: uma brincadeira perigosa contra a democracia. Se, lá pelo fim, o governo estiver bem, com sólidos índices de crescimento e nenhum candidato petista ou mesmo governista à vista, Lula já não poderá dizer-se docemente constrangido para aceitar a "pressão" e embarcar na aventura. Palavras têm força e costumam ser cobradas. O presidente, ontem, assinou um atestado antiterceiro mandato que vale como documento. E não é daqueles de Palocci e Serra, que assinaram e depois rasgaram o compromisso de não largarem suas prefeituras em Ribeirão Preto e em São Paulo para assumir ou disputar novos cargos. Desta vez, Lula deixou muito claro que foi eleito e reeleito de acordo com a Constituição e classificou de antidemocrático disputar o terceiro mandato. E se o Congresso mudar a Constituição? Bem. Como disse o próprio Lula, não parece nem "exequível" nem "provável". A não ser que o presidente jogasse todo o peso do governo para isso. Lula está moralmente impedido de fazê-lo. |