terça-feira, fevereiro 27, 2007

Eliane Cantanhede - Santo etanol




Folha de S. Paulo
27/2/2007

Sem a riqueza e o poder político dos EUA e sem os petrodólares e o frenesi expansionista de Chávez, o Brasil acaba de descobrir a pólvora, quer dizer, o etanol. Esta é a arma que o governo Lula sacou tanto para se aproximar dos norte-americanos como para reforçar sua presença entre os sul-americanos.
Os EUA temem a dependência do petróleo do Oriente Médio, com suas crises crônicas e agudas, e da Venezuela, antes tão dócil, agora cada vez mais arisca. Há, assim, um interesse desenfreado do governo Bush, das empresas, da academia e da própria sociedade americana pelos combustíveis alternativos.
Aí entra o Brasil, com infinitas possibilidades de energia -na cana, nos rios, no Sol- e há décadas na dianteira do álcool combustível. Na ponta das fontes alternativas, o etanol se transforma não apenas numa boa promessa econômica mas também, e talvez principalmente, política. Digamos que o etanol está para o Brasil como o petróleo está para Chávez. OK, consideradas as devidas proporções e a temporalidade.
Um é, outro será.
Na prática: o Uruguai quer os EUA, que querem o Brasil, que querem o Uruguai. Uma liga para a corrente pode ser o etanol, que estará no centro da agenda do encontro de Lula com Bush em São Paulo, em 9 de março, como esteve nas conversas de Lula com Tabaré Vazquez, ontem, na região da pequena Colônia de Sacramento, inserção portuguesa num ambiente espanhol.
Tabaré, que toda hora ameaçava fazer um acordo bilateral com os EUA, quer contrapartidas do Mercosul e do Brasil para não fazê-lo.
Um delas pode ser a construção de uma fábrica de etanol no Uruguai -com tecnologia e financiamento brasileiros, claro. O Brasil cede.
Bush sai de São Paulo para a mesma Colônia de Sacramento. Lula chegou à frente, para amenizar as ligações do Uruguai com os EUA e segurar o sócio no Mercosul.