A divulgação dos diálogos entre os pilotos do Legacy, entre eles e os controladores e entre os próprios controladores no dia do maior acidente da história da aviação brasileira acirrou uma guerra que corre solta nos bastidores: o empurra-empurra para apontar "o culpado". Os principais trechos foram publicados pela Folha no domingo passado, em manchete da capa e três páginas, a partir das transcrições da caixa-preta do Legacy, da torre de São José dos Campos (SP) e do Cindacta-1 (de Brasília). Desde o fatídico 29 de setembro, o brigadeiro J. Carlos (Infraero) já classificava o choque do Legacy com o Boeing da Gol em pleno ar de "acidente impossível", tantos e tão complexos são os elos que evitam acidentes assim. Para que aconteçam, é preciso uma seqüência de falhas humanas, de comunicação e de equipamentos -além do danado do azar. Todos esses fatores ficam evidentes com os diálogos. Eles mostram que os pilotos Lepore e Paladino estavam desconfortáveis com o novo avião e com o vôo fora de casa e que os controladores estavam distraídos e displicentes. Não há um culpado, mas vários, cada qual um pouco. Na Aeronáutica, há três preocupações: que o nível de passionalidade e o empurra-empurra comprometam o ritmo das investigações pelos experts em aviação, que os pilotos norte-americanos se calem para sempre (apesar de a empresa ExcelAire, dona do Legacy, garantir o contrário) e que a batalha judicial e seus interesses pecuniários comecem prematuramente, antes das conclusões técnicas. É crucial, porém, que a opinião pública seja informada e que pilotos e controladores fiquem mais atentos. O objetivo da imprensa é divulgar o que de fato houve. E o das investigações aeronáuticas não é apontar e punir os culpados: é prevenir acidentes. As 154 vítimas podem evitar milhares de outras. |