quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Clóvis Rossi - O medo, de norte a sul




Folha de S. Paulo
22/2/2007

Antonio Maria Filho, um dos grandes do jornalismo esportivo, escreve para "O Globo" o artigo "Era gostoso voltar para casa sem ser assaltado".
Relembra que, no final dos anos 70, ficou chocado ao ser alertado em Bogotá (Colômbia) para não apoiar o braço na janela aberta do táxi porque seu relógio seria fatalmente furtado ao parar no primeiro sinal.
No Brasil, esse tipo de fenômeno era relativamente desconhecido, daí o choque do jornalista.
Foi mais ou menos a essa altura que roubar relógios começou a ser esporte nacional no Brasil também. Ninguém fez nada.
Um quarto de século depois, o brasileiro fica chocado é quando lhe roubam apenas o relógio.
Não é só no Rio ou em São Paulo, mas até em terras que permaneceram mais mansas por mais tempo. O leitor Luiz Antônio Alves, de Caxias do Sul (RS), escreve para relatar "arrastões no centro da cidade".
De fato, o jornal local "O Pioneiro" fez um levantamento que "indica que, entre dezembro e fevereiro, criminosos destruíram vitrines e furtaram mercadorias de 15 estabelecimentos", alguns deles atacados mais de uma vez, mesmo em locais em que há monitoramento da polícia, de um pomposo Centro Integrado de Segurança Pública.
O leitor Luiz Antônio expressa agora o mesmo choque de Antonio Maria há 20 e tantos anos: "Era uma vez, aqui no pampa gaúcho, um povo que se orgulhava em dizer: aqui que é bom de viver, não tem a criminalidade de Rio/SP, (...), existe cordialidade, alto nível educacional e politização consciente. (...). Hoje, o céu é mais cinzento, o pensamento é jungido com medo, desolação e impotência".
A inércia, lá atrás, com a pequena criminalidade, deu no que deu.
Agora, a inércia é até com a grande criminalidade. Alguma surpresa com o "medo, desolação e impotência" de norte a sul?