No dia 28 de junho de 1974, o secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger telegrafou de Moscou para a embaixada americana em Bonn. Preocupava-se em conseguir um lugar na partida que Brasil e Holanda disputariam pela Copa cinco dias depois, na cidade alemã de Dortmund. Com o presidente Richard Nixon nas últimas, Kissinger não queria perder a semifinal. Pediu informação sobre o tempo a percorrer entre o aeroporto e o estádio. A mensagem integra o pacote de correspondência secreta da diplomacia norte-americana recém-liberado ao público. Como revelou o repórter Rubens Valente, um telex do embaixador John Crimmins recomenda que seu país não retalie o Brasil pela tortura a opositores. Foi o mesmo Crimmins que, com base em dados do consulado no Rio, alertou Kissinger sobre a reação local ao que teria sido sua vibração pelos holandeses vitoriosos (2 a 0). Contou que o colunista Zózimo Barroso do Amaral, do "Jornal do Brasil", escreveu sobre os "maus modos" do secretário, torcendo "ostensivamente" ao lado do brasileiro João Havelange. Quando o novo capo da Fifa lhe deu uma camisa da seleção, Kissinger, "com ar de profundo desdém", indagou: "O que acha que vou fazer com isso?". De Brasília, o embaixador avisou que diria a Zózimo que o chefe não torcera pela Laranja Mecânica. Não devia saber se isso era verdade. Louco por futebol, Kissinger apoiara em 1973 o golpe que fizera do principal estádio do Chile um campo de concentração e sangue. Ainda hoje, para conhecer a história do Brasil, é preciso recorrer a documentos dos Estados Unidos. Neles se descobre de tudo -até manifestações tão humanas como a de um dos três homens mais poderosos do planeta a cavar um convitezinho para o jogo. |