RIO DE JANEIRO - Na aviação, perfeição é apenas aceitável. A frase sugere tolerância zero com o erro, precisão máxima ao levantar e pousar em segurança um monte de aço bem mais pesado que o ar. A máxima, usada com gosto por oficiais da Aeronáutica, talvez nunca tenha sido tão desafiada como nesses dias que voaram em 2006.
Falhas humanas, equipamentos deficientes, sobrecarga de trabalho, inglês precário de quem precisa se comunicar com pilotos, mais bilhetes do que assentos claustrofóbicos, impontualidade absurda, filas intermináveis, autoridades despreparadas, espaço aéreo congestionado. Que mais? Ora, se isso não é o que se chama dar chance ao azar...
A situação nos ares e aeroportos chegou a esse ponto a partir da batida entre o Legacy e o avião da Gol? Ou não será que o desleixo na busca de uma aceitável perfeição, mais o estresse geral, não criam as condições para choques no céu e um inferno na terra?
Os sinais vêm de antes. Desde que a velha Varig embicou de vez para baixo, no início do ano, os ares já não estavam para brigadeiro. Ali por abril, maio, pegar uma simples ponte aérea passou a testar a paciência dos sempre apressados passageiros entre Rio e São Paulo. E não era só o trânsito paulistano que os tiravam do sério.
As empresas que dominam o mercado nunca ganharam tanto dinheiro como neste ano que, ao menos do ponto de vista dos passageiros, finalmente se encerra.
Mas ao mesmo tempo nunca foi tão massacrante viajar de avião. Decididamente, alguma coisa não bate nos dois lados dessa equação. Melhor afrouxar os cintos e passar o verão por aqui mesmo. Com licença, que a praia é logo ali.