quarta-feira, novembro 29, 2006

O imperativo das usinas nucleares Rubens Vaz da Costa

22 de Novembro de 2006

Passadas as eleições impõe-se a necessidade de uma decisão sobre a adoção de um programa de construção de usinas nucleares em nosso País para geração de eletricidade. Em 1970, o governo brasileiro abriu uma concorrência "turn key" para a construção de uma usina nuclear. Foi vencida pela empresa americana Westinghouse. Os trabalhos foram iniciados em 1971 e a geração em 1982. Em 1975, o governo decidiu que o Brasil deveria tornar-se auto-suficiente em tecnologia nuclear e assinou um acordo com a Alemanha para a construção de 8 usinas nucleares de 1300 mWe em 15 anos. A construção das 2 primeiras unidades foi iniciada imediatamente para a instalação do equipamento fornecido pela Siemens-KWU. O equipamento das 6 usinas restantes deveria ser fabricado no Brasil em conformidade com as cláusulas de transferência de tecnologia do Acordo. Angra 2 foi construída e começou a gerar no ano 2000. Angra 3 continua inacabada embora 90% do equipamento tenham sido recebidos.

Após o acidente de Chernobyl em 1986, a maioria dos países abandonou a opção núcleo elétrica e retornou ao uso de outras fontes de energia, basicamente fósseis. Na atualidade, em conseqüência do efeito estufa sobre o clima planetário e aos avanços nas medidas de segurança nos 442 reatores em operação e no desenho de novas unidades, a opção núcleo elétrica voltou a ser preferida por muitos países. Hoje há 28 reatores em construção, 62 planejados e 160 propostos. O consumo de urânio eleva-se este ano a 65 mil toneladas.

Como o Brasil tem vasto potencial hidrelétrico e de outras fontes renováveis de energia, apesar de ser medíocre seu potencial de fontes fósseis (carvão, petróleo e gás) tem uma da reserva de urânio estimada em 143.000 mil toneladas, a quarta do mundo e, alem disso, dominamos a tecnologia do ciclo combustível nuclear. Assim, cabe examinar em profundidade a conveniência de reiniciarmos o programa nuclear com a conclusão de Angra 3 e a construção de outras usinas. Há várias maneiras de avaliar tal conveniência, mas vou considerar apenas a posição do Brasil em relação aos países com o maior potencial hidrelétrico, tendo em vista o argumento de que o país que tem amplos recursos renováveis pode dispensar o uso do átomo para gerar eletricidade. A matriz de energia elétrica brasileira, levantada pela Aneel mostra a seguinte participação dos energéticos: 82% renováveis e 18% não renováveis inclusive os 2% nucleares.

Os nove países dotados do maior potencial hidráulico são: Canadá, Estados Unidos, Brasil, China, Rússia, Noruega, Japão, Índia e França. A Noruega dá exclusividade à geração hidrelétrica, é exportadora de eletricidade e tem o mais alto consumo per capita do mundo, quase o dobro dos Estados Unidos. Na França, o nono potencial hidráulico mundial, a geração nuclear responde por 80% da produção de eletricidade, tendo exportado 80 bilhões de kWh em 2002. Em 2005, a participação da geração nuclear foi 15% no Canadá, 19% nos Estados Unidos, 2%, no Brasil e 29% no Japão. No mundo a geração de eletricidade (em 2003) foi 66% fóssil, 16% hídrica, 16% nuclear e 2% dos demais energéticos.

Dos nove países com maior potencial hidráulico, cinco são do primeiro mundo e os restantes formam o BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China – ditos emergentes e candidatos a um lugar no primeiro mundo. A Rússia, Índia e China abraçaram a energia nuclear. Na Rússia, o átomo gera 16% da eletricidade, nos 31 reatores em operação. Tem 3 em construção, 8 planejados e 18 propostos. Na China o átomo gera 2%, em 10 reatores em operação. Tem 5 em construção, 13 planejados e 50 propostos. Na Índia, o átomo gera 15,7% em 16 reatores em operação. Tem 7 em construção, 4 planejados e 20 propostos. No Brasil o átomo gera 2% em 2 reatores em operação e tem um com a construção paralisada.

No Seminário Franco-Brasileiro de geração nuclear recentemente realizado no Recife, técnicos brasileiros e franceses examinaram detidamente a opção nuclear. O Brasil esteve representado pela cúpula do sistema elétrico e das entidades relacionadas com a energia nuclear e das grandes empreiteiras nacionais. Demonstraram competência e revelaram os planos existentes a nível técnico. O problema agora é de natureza política sobre a decisão de retomarmos ou não um programa de geração nuclear. Estão prontos para a partida.

Aos que estranharam a ausência de dados sobre o futuro da energia nuclear nos Estados Unidos, sugiro que visitem a página da Casa Branca (www.whitehouse.gov) e acessem na "State of the Union Address" – a mensagem que o presidente Bush enviou ao Congresso em janeiro. O plano energético apresentado inclui com alta prioridade a energia nuclear. O relatório final do Seminário Franco-Brasileiro contem uma riqueza de informações. Está disponível no site www.apef.com.br