BRASÍLIA - O caso da publicidade estatal federal para a produtora de TV de um filho do presidente da República reabre um debate nunca enfrentado pelo governo petista.
A pergunta é: o Planalto considera apropriado a administração federal gastar cerca de R$ 1,5 bilhão por ano com publicidade e patrocínios? Trata-se de uma deformidade profunda do capitalismo "à brasileira". Metade dos jornais, rádios e TVs no país iriam à falência no dia seguinte se fosse proibido aceitar propaganda estatal -seja federal, estadual ou municipal.
Fora do governo, o PT era contra esse tipo de despesa. Instalado no Palácio do Planalto, aderiu com gosto à gastança para lustrar a própria imagem. O dirigente petista Valter Pomar fez uma confissão involuntária a respeito numa carta à Folha criticando o jornal (perdão pelo pleonasmo): "Todas as decisões de governo são, por definição, decisões políticas. Isso é particularmente válido quando estamos tratando de publicidade de instituições públicas". No passado, a história era outra.
Em 8 de outubro de 1996, o então deputado federal Luiz Gushiken (PT-SP) enviou um ofício ao Planalto. Em tom crítico, escreveu: "A administração federal irá lançar no fim deste ano uma campanha publicitária cujo objetivo será melhorar a imagem do presidente". Em seguida, pedia o "valor previsto" e o "planejamento de mídia [veículos que receberiam as verbas]".
FHC nunca respondeu. Gushiken virou ministro da propaganda de Lula e imitou FHC.
Há dez anos, Gushiken estava certo. Atazanava o governo para saber detalhes dos gastos publicitários estatais. Hoje, quando alguém tenta fazer o mesmo, logo surgem petistas em posição de sentido dizendo enxergar a elite tentando um golpe contra Lula. Tenham dó.