BRASÍLIA - Lula se desdobra entre montar uma ampla coalizão política e encontrar formas de fazer o Brasil crescer dentro do modelo de economia ortodoxo adotado.
Uma coisa depende da outra. No sistema atual, a base de apoio no Congresso nasce da 1) fisiologia e 2) da robustez da economia associada à popularidade lulista.
Collor tentou de tudo às vésperas de seu impeachment. A fisiologia já não bastava. Ninguém se aproximava de um presidente que colocara o país em estado quase terminal. A economia era um misto de inflação nas alturas e recessão.
FHC muitas vezes deu menos do que deputados e senadores queriam, mas sua popularidade estava sólida por causa do Plano Real durante o primeiro mandato. Lula teve isso no início de seu governo. A ortodoxia palocciana funcionou como anteparo para crises na política. Agora, a história sinaliza um cenário diferente. As juras eternas de fidelidade a Lula só duram se o governo der certo -ou, mais exatamente, se o Brasil crescer.
Caso contrário, pulam todos do barco. Os corredores do Planalto viram um local deserto.
Lula sabe disso. Mas não tem a menor idéia de como sair da armadilha que montou para si próprio.
Ontem, mandou cortar quase R$ 500 milhões nas despesas dos ministérios. Mais arrocho. Ao mesmo tempo, afirmou: "O Brasil já fez todos os sacrifícios que tinha que fazer. O povo brasileiro precisa colher agora um pouco de benefício (...). O povo brasileiro já pagou todos os pecados que cometeu".
Esse transtorno bipolar na condução do país é mau sinal. Sem economia deslanchando, a coalizão de Lula se esfarela a partir dos primeiros resultados do PIB de 2007. Pior: não há a menor indicação de sofisticação intelectual na Esplanada capaz de mostrar a Lula o que deve ser feito, fora da retórica vazia e inútil dos últimos quatro anos.