domingo, novembro 26, 2006

Dora Kramer O baronato faz acerto na CPI


Oposição faz corpo mole e não quer mais se aprofundar no caso do dossiê


O que parecia uma questão de vida ou morte antes das eleições para partidos como PSDB e PFL - o caso do dossiê Vedoin -, agora já não desperta mais o mesmo interesse. Ao contrário. A oposição não vem demonstrando o menor empenho em aprofundar as investigações na CPI dos Sanguessugas e, embora participe com 22 dos 38 integrantes, não tem entrado em embates que possam criar embaraços sérios aos governistas.

Não há um acerto explícito. Há uma espécie de acordo tácito, segundo o qual há um 'teto' para o esclarecimento dos fatos: os barões de parte a parte ficam de fora. A oposição não insiste em convocações constrangedoras e o governo não usa a maioria para dar o troco.

O máximo a que se chegou foi à tomada de depoimentos de dois ex-ministros da Saúde do governo Luiz Inácio da Silva. Mesmo assim, quando Saraiva Felipe e Humberto Costa compareceram à CPI apareceram apenas três tucanos e um pefelista.

Convidado como os outros, o ex-ministro José Serra não foi. E daí as coisas não passarão, administradas em banho-maria por causa do desconforto recíproco entre governistas e oposicionistas.

O senador Aloizio Mercadante prestou depoimento na Polícia Federal importante para o desmonte da versão dos operadores da montagem e venda do dossiê, mas não se pretende chamá-lo a depor.

Bem como não se vê movimentação para pedir esclarecimentos à senadora Ideli Salvatti, que, segundo Mercadante, participou com ele de uma reunião onde se tratou do assunto com Jorge Lorenzetti e Oswaldo Bargas dias antes da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha com R$ 1,75 milhão para a compra do dossiê.

Aquele vigor investigatório da época da campanha agora tampouco mobiliza a oposição para reagir contra a intenção dos governistas de terminarem a CPI no próximo dia 30.

Os únicos interessados em prorrogar os trabalhos para além do prazo regimental de 22 de dezembro são aqueles mesmos ditos independentes que lá no início, quando no foco das investigações estavam apenas parlamentares acusados de receber propina em troca da apresentação de emendas para a compra de ambulâncias, levaram a CPI a pedir abertura de processos por quebra de decoro contra 67 deputados e três senadores.

Depois da vitória do presidente Luiz Inácio da Silva na eleição e do constrangimento da oposição com a entrada em cena de personagens como o empresário Abel Pereira, o ex-ministro Barjas Negri e a possibilidade sempre presente de convocação do também ex-ministro da Saúde e governador eleito de São Paulo, José Serra, os ânimos arrefeceram bem.

Tão arrefecidos estão que os partidos com número suficiente para influir nas decisões da CPI não parecem impressionados com o fato de a Polícia Federal não ter liberado para a comissão até agora todos os 33 CDs com as imagens das câmeras do Hotel Ibis, onde se deu a prisão de Gedimar e Valdebran. Da 'cena do crime' chegaram até a CPI dois ou três fotogramas já amplamente divulgados.

Não há na comissão nenhuma expectativa de que ela possa produzir fatos novos ou esclarecedores. A esperança reside ainda no trabalho do Ministério Público para o aparecimento de alguma prova material sobre a origem do dinheiro do dossiê.

Dos participantes da operação só não foram depor ainda Gedimar, com quem estava o dinheiro, e Hamilton Lacerda, filmado com uma mala onde estariam o R$ 1,75 milhão.

Os outros, Lorenzetti, Expedito Veloso e Oswaldo Bargas, negaram saber da existência de dinheiro para não serem acusados de envolvimento em crime contra o sistema financeiro. Gedimar não poderá negar, mas pode se calar se realmente comparecer à CPI na próxima terça-feira como previsto.

Hamilton Lacerda está convocado para o mesmo dia e provavelmente repetirá a versão - considerada inverossímil por Mercadante no depoimento à PF - de que não carregava dinheiro na mala e sim recibos para doadores de recursos à campanha.

E o que fará a CPI diante disso? Nada. Engolirá a embromação e sucumbirá à sombra do poderoso baronato cuja disposição é encerrar o quanto antes esse desconfortável assunto.

A oposição, refém de suas próprias contradições, terá repetido o gesto feito quando recuou das investigações do valerioduto para preservar o senador Eduardo Azeredo, e nunca mais poderá abrir a boca para falar em dossiê.

Leve impressão

O presidente da Infraero, José Carlos Pereira, com um mês de crise nos aeroportos sem perspectiva de melhora antes do fim do ano, manifestou seu temor de que o problema venha a afetar o turismo.

Boa percepção, mas assalta a alma da autoridade ao ritmo das providências do Ministério da Defesa e da Aeronáutica: com atraso.

Hoje esses prejuízos não são mais uma hipótese nem fruto de impressão à deriva. Há cancelamentos de reservas nos hotéis e as agências de viagem reclamam das baixas há semanas.

Se as coisas não se normalizarem nas férias haverá, no mínimo, superlotação nas estradas.