SÃO PAULO - Eugênio Bucci enxerga bem -e se refestela na terra de cegos em que se transformou o petismo neste pedaço de tempo perdido entre Lula 1 e 2. Não se acuse de oportunista o presidente da Radiobrás, que entregou o cargo, mas não sabe se vai deixar o posto.
Se ele prega aos quatro ventos contra os arroubos pela "democratização" companheira da mídia, não o faz em nome da recolocação profissional -ou não apenas sob essa motivação. Quem for conferir o que Bucci fez, disse e escreveu ao longo desses quatro anos notará uma coerência admirável. Desde o início, pôs-se em cruzada contra o "chapa-branquismo" e a partidarização da mídia estatal federal.
Na Radiobrás, implantou diversos protocolos de procedimento inspirados nas melhores práticas jornalísticas. Ajudou a arejar, enfim, um rincão embolorado da máquina de comunicação federal. Trata-se de um avanço importante (sujeito a retrocesso em Lula 2). A agenda, porém, é limitada demais.
É triste acompanhar um quadro do nível de Eugênio Bucci a gastar energias comemorando o novo enfoque "cidadão" da "Voz do Brasil" ou defendendo a flexibilização do horário de sua transmissão. São questiúnculas do século passado, quando o sistema público de TV ou definha -caso das TVEs- ou se expande na chatice corporativa -canais do Senado, da Câmara, do Executivo, do Judiciário etc.
Somem-se os recursos mobilizados no sistema Radiobrás e em publicidade estatal socialmente irrelevante e se conclui que patrimônio, profissionais e verbas que poderiam constituir no Brasil uma TV pública moderna, forte e autônoma em relação a governos e partidos estão sendo drenados pela lógica predatória de grupelhos.
Faltam lideranças para combater essa irracionalidade -óbvia para quem, como Bucci, vislumbra o todo e tem como parâmetro o interesse público difuso. Mas, a esgrimir pelo futuro, ele preferiu ser um bom presidente da velha Radiobrás.