O Globo |
27/10/2006 |
LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA: Até há pouco tempo, não, mas ouvi uma entrevista recente do Alckmin em que ele declarou que o problema do Brasil é a alta de taxa de juros e que isso impede o crescimento e tem peso fiscal de R$150 bilhões. O número é dele. Disse que é fundamental enfrentar isso e administrar a taxa de câmbio. Acrescentou que vai fazer ajuste fiscal, central para termos um estado forte e capaz de retomar o desenvolvimento. Pela primeira vez vi isso colocado por um candidato. Mas foi um passo na última hora. Em vez de montar a campanha em cima dessas idéias, fez isso no final. Ficou longe do povo. BRESSER PEREIRA: Tudo indica que quem vai ser eleito é o Lula. Não é derrotismo, mas com 21, 22 pontos de diferença, quase na véspera da eleição, fica muito difícil. Uma coisa preocupante é que, no segundo turno, houve uma radicalização muito grande da parte do Lula. Começou a falar dos pobres e dos ricos, que representava os pobres, pobres contra os ricos, e os ricos incluem toda a classe média. Disse que quem precisa do estado são os pobres. Para que o Brasil retome o crescimento, é fundamental não só uma política macroeconômica, mas que volte a ser nação. Ainda que as classes tenham conflitos, é fundamental que sejam solidárias, ainda mais quando se trata de competir internacionalmente. BRESSER PEREIRA: PSDB e PT não estão sabendo dizer com clareza os reais problemas do Brasil. O real problema é voltar a ser nação e voltar a se desenvolver. Desde que foram criados, os dois partidos tiveram como discurso democracia e justiça social. A primeira, felizmente, foi obtida e diziam que a segunda seria obtida aumentando gasto público em educação, saúde e assistência social. Os dois fizeram isso. Mas agora não dá mais. Precisa de desenvolvimento. Não pode mais ficar estagnado. O PT e o PSDB estão vazios de propostas e idéias. É preciso que se voltem para a sociedade ou que surjam outros partidos. |