Cortar o gasto público virou uma espécie de mantra de campanha eleitoral, ainda que a discussão tivesse sido truncada e sem definições claras de parte a parte. Aliás, só poderia mesmo ser um debate oco, porque não tocou no ponto central, este que todo mundo evita: a dívida pública e o monstruoso serviço por ela pago. O Unafisco-SP (Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal em São Paulo), que não é candidato a nada, pôde, talvez por isso, pôr o dedo na ferida e mostrar o tamanho do monstro: o Brasil gastou R$ 1,2 trilhão para pagar os juros da dívida nos últimos 11 anos. Ou, posto de maneira ainda mais "freddy-krugeriana": dá mais de meio Brasil de 2005. O PIB (Produto Interno Bruto, tudo aquilo que um país produz) em 2005 foi de R$ 1,938 trilhão. Não precisa nem curso primário completo para saber que um país que dedica, em 11 anos, mais da metade do que produz para pagar os credores está fadado à mediocridade, na melhor das hipóteses. Se você quiser outra comparação: desde 1999 (segundo governo FHC) até 2005 (governo Lula), os encargos da dívida ficaram, SEMPRE, perto ou acima dos 40% do Orçamento. Dá para fazer um país viável nessas circunstâncias? Marcio Pochmann (Unicamp) calcula que 70% do serviço da dívida vão para as mãos de 20 mil famílias (a cobertura do andar de cima, se o Elio Gaspari me permite). Ou, posto de outra forma, um terço de tudo o que Brasil-2005 produziu acabou nas mãos da cobertura. Duvido que haja exemplo, no planeta, de mais maciça transferência de renda do conjunto da sociedade para sua fatia mais rica. Já sei que virá o habitual caminhão de censores para dizer que estou defendendo o calote, só porque ouso falar em Freddy Krueger. Pode até haver outra solução, mas, sem atacar o monstro de alguma forma, não há saída. |