quarta-feira, setembro 27, 2006

O direito de saber

O direito de saber
EDITORIAL
Folha de S. Paulo
27/9/2006
A MUOS CONTRA a imprensa são comuns em época de eleição. Luiz Inácio Lula da Silva, após um flagrante policial ter derrubado a cúpula de sua campanha, se diz prejudicado pela cobertura jornalística. Na crônica universal da democracia, o evento é rotineiro e tolerado: o candidato reclama, a mídia registra, o jogo prossegue.
O que não é rotineiro nem tolerável são ataques contra a liberdade de imprensa -ataques como o patrocinado pela chapa do governador licenciado do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que postula o segundo mandato. Sua assessoria requereu na Justiça Eleitoral censura prévia contra reportagem da Folha ainda em apuração e pressiona o Ministério Público paranaense a quebrar o sigilo telefônico de quatro jornalistas, entre os quais uma profissional deste jornal.
O tema da investigação jornalística eram os indícios de que um ex-funcionário da Casa Civil do governo Requião, que está preso, chefiaria um esquema ilegal de interceptações telefônicas dentro da administração estadual. A tentativa de obter liminar impedindo a publicação -sob alegação de que se basearia em evidências obtidas ilicitamente- foi negada pelo juiz Munir Abbage, do TRE do Paraná.
"A Constituição Federal estabelece o direito à liberdade da imprensa sem censura de qualquer natureza", escreveu o magistrado. Resta, no entanto, um pedido formal da candidatura Requião à Corregedoria do Ministério Público do Paraná para que solicite à Justiça a quebra os sigilos telefônicos de três repórteres do jornal "Gazeta do Povo", bem como da correspondente desta Folha em Curitiba.
Fica patente a tentativa do candidato do PMDB, acuado por suspeitas que rondam a sua administração, de constranger o livre exercício do jornalismo. Que a ação intimidatória não prospere, pois o alvo do ataque de Requião é o direito da sociedade de ter acesso a informações, instituição sagrada da democracia.