sexta-feira, setembro 01, 2006

A direita lulista


Artigo - Nelson Motta
Folha de S. Paulo
1/9/2006

"Ideologia, eu quero uma pra viver", pedia Cazuza há 15 anos, em vão. Hoje certamente dispensaria qualquer uma, cortaria esse papo furado e faria uma canção de amor.
Mas se divertiria em saber que mais de um terço dos eleitores da ultra-esquerdista Heloísa Helena se declararam de direita. Como se sente a fofa e feroz senadora ao ser apoiada por esses peçonhentos? Talvez ela acredite que a direita heloisista seja não-peçonhenta, uma direita do bem.
Lula só chegou ao poder e só vai se manter nele com o apoio da direita, a mesma que é sempre acusada por ele de conspirar para desestabilizar o governo popular e de ser responsável por tudo de ruim que acontece no país há 500 anos.
Mas é cada vez mais difícil entender o que para Lula são "as elites" e o que é "a direita", além de grandes vilões de nossa história.
Como definir essa massa amorfa e colossal que forma a direita lulista? Será que o povão confunde ser "de direita" com ser "direito"? Acho que não, já que esse pessoal vota maciçamente em mensaleiros e sanguessugas e não se importa se o presidente sabia ou não, desde que não perca o Bolsa-Família.
Já as "elites" devem ser "os ricos", que são sempre vorazes e cruéis, que ficam furiosos ao ver os pobres comerem, como diz Lula, assim como a direita dizia que os comunistas comiam criancinhas. A esquerda e o povo são bons, a elite é má e de direita.
Menos a elite sindical e a estatal, a elite petista e a peemedebista e a elite dos partidos corruptos, porque são as elites lulistas.
Por ignorância, burrice ou esperteza demais, por desilusão, cinismo ou oportunismo, a ideologia dominante no Brasil hoje não é de esquerda nem de direita, é o lulismo. E é aí que mora o perigo.