Editorial |
Valor Econômico |
1/9/2006 |
O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, iniciou a campanha com uma grande vitória: era o outsider na disputa interna e impôs-se sobre o ungido e parte da elite partidária, José Serra. Serra deverá levar no primeiro turno o governo de São Paulo; Alckmin, que saiu consagrado do governo paulista e iniciou com altos índices de intenção de voto a campanha presidencial em São Paulo, corre o risco de chegar na eleição para o primeiro turno inclusive derrotado no seu Estado. Como observa Otavio Frias Filho, em artigo publicado ontem pelo jornal "Folha de S.Paulo", Alckmin era o sonho de qualquer publicitário de acordo com as pesquisas qualitativas: "É honesto, trabalhador, experiente, religioso e preparado. É equilibrado, evita extremos, não insulta seus adversários, conhece dados e números". Por que, então, não decolou? De acordo com as pesquisas qualitativas, Alckmin, certamente, não errou o tom de sua campanha. A resistência do candidato ao "tem que dizer, tem que falar" recomendado, em coro, na reunião que manteve anteontem com intelectuais, e ao "tem que bater" recomendado por Antonio Carlos Magalhães, parece não ser o determinante de seu desempenho. Existem fatores altamente favoráveis à reeleição de Lula, é certo, mas a realidade também aponta para o fato de que o ex-prefeito de Pindamonhangaba e ex-governador de São Paulo está só. O PSDB, pela segunda eleição consecutiva, manteve um comportamento autofágico: o candidato a presidente vence internamente passando o trator sobre o outro, não deslancha e as lideranças vão pouco a pouco o abandonando. O governador Lúcio Alcântara, do Ceará, fez isso às claras: se não aderiu oficialmente ao petista Lula, está de fato com ele. O presidente do partido, Tasso Jereissati, também cearense, tinha contra sua ação de pressionar os candidatos estaduais a carregarem Alckmin junto o fato de nem ele ter se sentido na obrigação de fazer a campanha de José Serra nas eleições passadas. Agora tem contra si uma defecção no seu próprio Estado. O governador Aécio Neves, de Minas, que vai ser reeleito com uma votação consagradora, e Serra, o candidato paulista, estão longe de assumir o postulante tucano à Presidência. Ambos fazem um jogo dúbio, com declarações frouxas favoráveis a Alckmin e pouca ação efetiva. Na quarta, o clima era de constrangimento no almoço de adesão a Alckmin que reuniu 500 empresários no Jockey Clube: Serra não estava. Cumpria agenda de campanha em São Bernardo do Campo. O outsider do partido ganhou internamente, mas não levou: os caciques deixaram-no de lado com o problema eleitoral e abriram o processo de disputa sucessória para 2010. Se existe algo intenso nos bastidores tucanos, certamente é o trabalho de Aécio e Serra para se viabilizarem como candidatos à sucessão de Lula. Para uma grande parcela do PSDB a eleição já acabou, e Alckmin está derrotado. O movimento, agora, é para transferir a culpa da derrota apenas para o candidato. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dias atrás, após reconhecer que o partido falha por não ter feito "o trabalho de formiguinha", particularizou em seguida o diagnóstico: "Num país como o nosso (...), se os candidatos não forem capazes, com suas palavras, com seu gestual de transmitir uma mensagem e esta mensagem colar com o sentimento do povo, não se ganha eleição". Na quarta, à Reuters, enterrou Alckmin: "Ele é espantosamente pouco conhecido". E jogou para o futuro os planos tucanos: "Mesmo que o Lula ganhe, o PSDB continua sendo um pólo de poder graças ao fato de que Serra e Aécio vão ganhar. Se não fosse isso, não seria pólo de poder". Serra acredita repetir Alckmin, quando mantém frouxa a relação entre a sua candidatura e a do ex-governador. Pelo menos é o que se subentende de sua resposta, quando perguntado se abandonara Alckmin: "Estamos trabalhando de maneira absolutamente integrada, como nunca se trabalhou aqui" - disse, estocando Alckmin, que nas eleições passadas era favorito na disputa para o governo e praticamente ignorou Serra, candidato a presidente. Assim, Alckmin repetiu Serra, e tornou-se o abandonado da ocasião - e Serra ou Aécio poderão repetir Alckmin daqui a quatro anos, se o PSDB, até lá, não se constituir como um partido. E, por mais que o sistema partidário brasileiro esteja capenga, são as exceções os que se elegem sem estrutura partidária. Fernando Collor de Mello não foi a regra.
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