segunda-feira, agosto 28, 2006

VEJA O nebuloso Newtão

O nebuloso Newtão

Declaração de bens do político mineiro
lança mais dúvidas sobre seu patrimônio


José Edward


Celso Junior/AE
André Fossati/Ag. 1º Plano
Newton Cardoso, ao lado de Lula, e a sua fazenda Veredão: casa, terras e pista para aviões declaradas pelo preço de um carro

A fortuna do ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso sempre foi um assunto nebuloso. No início do mês, ele acrescentou mais mistério ao seu patrimônio. Candidato ao Senado pelo PMDB, Newtão, como é conhecido, informou ao Tribunal Regional Eleitoral que seus bens somam 11 milhões de reais. Dias depois, comprou o controle da indústria de sucos Goody. O faturamento e o valor dos empréstimos contraídos pela empresa levaram os analistas a estimar o valor da transação em 12 milhões de reais. É mais do que Newtão declarou à Justiça. Seu advogado, Luiz Gustavo Oliveira, explica que a Goody não foi incluída na lista entregue ao tribunal porque o negócio não havia sido concluído. O advogado encontrou dificuldade, porém, em esclarecer de onde saiu o dinheiro usado por Newtão para comprar a fábrica, já que ele não consta de sua declaração. Deu duas explicações contraditórias. Primeiro, afirmou que a compra não envolveu dinheiro, porque a companhia estava muito endividada. Depois, corrigiu-se e disse que uma das empresas do candidato desembolsou 6 milhões de reais.

A controvérsia sobre o patrimônio de Newtão o acompanha há quase quarenta anos, desde quando ele ingressou na política. No período em que foi governador, no fim dos anos 80, as denúncias de corrupção lhe renderam dois processos de impeachment. Em suas campanhas seguintes, as dúvidas sobre sua evolução patrimonial ressurgiram. Desta vez, os pontos obscuros já aparecem. Por exemplo, Newtão informou que tem duas fazendas. Uma delas é a Veredão, onde está a pista de pouso que ilustra esta reportagem. Ele a declarou por meros 30.000 reais – o preço de um carro médio. Mas uma avaliação menos modesta, e mais compatível com o mercado, dá conta de que a Veredão valha 3 milhões de reais.

Na lista, Newtão declarou ainda suas ações da NC Participações por 5,5 milhões de reais. A NC é dona de uma empresa chamada Rio Rancho, em nome da qual estão registradas 25 fazendas. Apenas seis delas valem 17 milhões de reais. De novo, é bem mais do que ele atribuiu à NC e do que informou à Justiça. No documento entregue à Justiça, Newtão nem sequer cita a mineradora Magnesita. Há cinco anos, a Ovante Trading, sediada no paraíso fiscal da Ilha da Madeira, adquiriu 30% da mineradora. Hoje, essas ações valem 60 milhões de reais. Newtão é diretor da Magnesita. Seu advogado explica que ele chegou ao cargo porque se tornou procurador da Ovante. "Escolheram Newton porque ele tem preciosos contatos internacionais", diz. Por essa versão, corrigiu-se uma injustiça histórica. Até hoje, pensava-se que Newtão era um monoglota funcional, incapaz de pedir uma Coca-Cola numa lanchonete americana. Pois agora ele faz até "preciosos contatos internacionais". Preciosos, mesmo. Seus contatos nacionais também se valorizaram. Hoje, ele sobe no palanque de mãos dadas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e participa da chapa do candidato petista a governador, Nilmário Miranda. No passado, o mesmo Miranda defendia o impeachment do peemedebista e afirmava: "O senhor Newton Cardoso deve procurar aliar-se a seus semelhantes na corrupção". Pois bem, o eleitorado tem todo o direito de concluir que Newtão não apenas procurou como achou seus semelhantes.