O projeto siderúrgico da empresa brasileira interessa à economia boliviana. A polêmica em torno do projeto siderúrgico da EBX na Bolívia oferece um campo de observação sedutor para a projetada integração econômica da América do Sul, que o imbróglio da Petrobras, muito mais complexo, não deve obscurecer. Mesmo porque, do ponto de vista estrutural, sob a ótica dos interesses da Bolívia, o projeto da EBX talvez atenda melhor a economia boliviana que o da Petrobras. Os investimentos da EBX são vultosos em comparação com os dados básicos da economia boliviana: na fase inicial, investimento de US$ 150 milhões, construção de quatro altos-fornos para a produção de ferro-gusa para mercados bolivianos e externos, sendo que as duas primeiras unidades estão em fase final de teste. E na segunda fase, vencida a etapa da implantação das usinas de ferro-gusa e disciplinada adequadamente a questão do suprimento da base energética do projeto, a EBX contempla a possibilidade da implantação, em território boliviano, de uma siderúrgica para a produção de aços longos. A produção desta usina se destinará, em parte, para o mercado externo e parte para o próprio mercado boliviano, constituindo-se, na verdade, em plataforma essencial para um programa de industrialização do espaço econômico boliviano, equivalente ao papel desempenhado pela Companhia Siderúrgica Nacional na história econômica brasileira. Inicialmente, os altos-fornos processarão minério de ferro brasileiro da jazida da MMX, vinculada à EBX, situada no Estado do Mato Grosso do Sul. A grande novidade do projeto, do ponto de vista estrutural, é agregar valor industrial ao minério brasileiro no espaço econômico boliviano e não no próprio espaço brasileiro, como é usual. É uma iniciativa que pode se converter em paradigma para uma efetiva integração econômica da América do Sul: o valor unitário de minério exportado do Brasil é de US$ 40 a tonelada, enquanto o valor unitário do ferro-gusa exportado do Brasil é de US$ 275, sendo a totalidade do valor agregado apropriado pela economia boliviana. Ao lado desta vantagem, o projeto utilizará carvão de origem vegetal na conversão do minério de ferro em ferro-gusa, visando, de novo, a tornar-se um paradigma para projetos siderúrgicos ambientalmente inquestionáveis, segundo os mais rigorosos critérios técnicos e aproveitando, sempre, insumos bolivianos. Os insumos florestais, base energética do projeto, serão providos por produtores bolivianos. Na etapa inicial, vendendo resíduos florestais existentes em áreas certificadas pelas autoridades bolivianas. Posteriormente, para garantir em termos permanentes o suprimento de carvão para sustentação do projeto, serão desenvolvidos, pela EBX, em articulação com os produtores florestais locais, amplos programas de reflorestamento, garantindo a siderúrgica aos produtores locais assistência técnica e financeira, além de mercado para a produção e comercialização deste insumo energético fundamental. A concepção técnica do projeto, pela combinação da agregação de valor industrial na Bolívia e utilização de recursos energéticos não-poluentes providos por recursos florestais bolivianos, é profundamente inovadora em relação a outros projetos de ferro-gusa e terá, sem dúvida, amplo apoio até mesmo dos mais radicais grupos ambientalistas e se habilitará aos fundos financeiros instituídos para projetos que capturem carbono. A geração de emprego prevista nos projetos florestais e siderúrgicos é estimada em cinco mil empregos permanentes nos programas florestais e de 300 empregos na siderurgia. É difícil, assim, compreender as razões do governo boliviano para condenar o projeto, tendo-o como nocivo ao país. A alegada agressão ao meio ambiente não é procedente, uma vez que o projeto se espelha em similares projetos no Brasil que utilizam insumos florestais como redutor de minérios. Os exemplos mais recentes são as usinas da Mannesman e da Vale do Rio Doce; a primeira instalada no centro de Belo Horizonte e a outra no Pará. Projetos que foram financiados pelos fundos internacionais destinados a projetos que seqüestram carbono da atmosfera e o chamado mecanismo de desmonte ou limpo - MDS. Sou ardoroso e histórico defensor de projetos produtivos que integram, economicamente, a América do Sul. Por isso, espero que o governo da Bolívia, vencida a suspeita que levantou em torno do projeto e esclarecida a questão do meio ambiente, acolha o projeto da EBX, que é, econômica e socialmente, útil para o país. Poderá servir de paradigma para iniciativas empresariais brasileiras e bolivianas, que integrem a América do Sul, usando, em cada caso, em benefício comum, os insumos que cada qual dispõe, além de organizar, como no caso da EBX, projetos integrados que beneficiem, equilibradamente, as duas economias, a detentora da matéria-prima e a que detém o mercado, exatamente como é o caso da empresa brasileira. |