quinta-feira, agosto 31, 2006

A marca deles é a crise Plínio Fraga


Artigo -
Folha de S. Paulo
31/8/2006

O excelente documentário da americana Rachel Boyton "Bolívia: História de uma Crise", ainda em cartaz no Rio e em São Paulo, tem um título original mais cifrado, mas mais criativo e provocador do que o da versão brasileira. "Our Brand is Crisis" deve ser traduzido para algo como "crise é nossa marca".
O documentário acompanha o passo a passo da campanha à Presidência da Bolívia de Gonzalo Sánchez de Lozada, o Goni. Na década de 90, marcou sua gestão administrativa por privatizações e abertura ao capital estrangeiro.
Em 2002, mal nas pesquisas e com alta rejeição, Goni tentava voltar à Presidência. Como saída, contratou o marqueteiro James Carville, que já deu palpites aqui em campanhas de Paulo Maluf e FHC.
Na Bolívia, Carville e sua equipe conseguiram virar uma disputa que parecia perdida, prometendo suprir os anseios do eleitor mais do que atender as necessidades do país. Goni foi reeleito, mas ficou sete meses no poder, sendo obrigado a renunciar em meio a uma crise social e política conturbada, com mais de cem mortos em protestos. O filme termina com o ex-presidente exilado em Washington, de onde assistiu à vitória de Evo Morales, no pleito de sua sucessão.
O problema dos marqueteiros é que não poupam nem a mãe para vencer. Não resolvem problemas, como abordá-los na campanha. Depois passam o pepino adiante.
Um dos mais badalados marqueteiros brasileiros respondeu certa vez a uma questão prosaica. Um homem de 40 anos ainda vivia com a mãe e tinha sua imagem no universo feminino prejudicada cada vez que tocava no tema. "Pare de dizer que você mora com sua mãe. Diga que sua mãe mora com você." Antes dependente, agora provedor. A situação da mãe não mudou, mas o discurso ficou muito melhor.