quinta-feira, agosto 24, 2006

Dora Kramer - Esperança tem limite



O Estado de S. Paulo
24/8/2006

O alto comando do PSDB já fala que é "difícil" chegar ao segundo turno, embora ainda alimente uma esperança.
Mas, como tudo na vida, o otimismo quanto à possibilidade de vitória também tem um limite. E, em relação à viabilidade eleitoral de Geraldo Alckmin, o prazo é a primeira semana de setembro.
Se o candidato não chegar lá no patamar dos 30% das intenções de voto nas pesquisas, o PSDB disputa a eleição por honra da firma, mas já começa a cuidar da vida.
Por "cuidar da vida" entenda-se não só o empenho para se sair bem nas eleições municipais de 2008 e vencer a presidencial de 2010. Prepondera no tucanato uma preocupação com a reorganização da tropa, a reconstrução de uma agenda de futuro e o reencontro com as próprias origens.
Nascido como partido de bem-pensantes, o PSDB sente que se perdeu um pouco no pragmatismo exigido pelos oito anos de governo federal - conquistado quando ainda engatinhava, com seis anos de existência -, dispersou suas ações e abriu mão de seu grande trunfo dos primórdios: o pensamento.
Ficou sem rumo e não adquiriu tutano. Reconhece que não tem hoje alguém para fazer com o presidente Luiz Inácio da Silva o que o deputado Fernando Gabeira fez com o então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, quando cobrou dele firme e frontalmente uma conduta moral à altura do cargo.
Quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se referiu outro dia à falta que faz um político com a personalidade de um Carlos Lacerda, falava disso, da capacidade de galvanizar a indignação.
Essa missão, analisam os tucanos, em tese deveria caber ao candidato, mas Alckmin não reúne os atributos.
Serra poderia reunir? Provavelmente, mas nem por isso vigoram agora sentimentos de arrependimento com a escolha do candidato.
O olhar no retrovisor só será útil na tarefa de reconstrução, para não repetir os erros. O mais grave, eleitoral e politicamente falando, foi o PSDB não ter tido coragem suficiente para enfrentar o PT quando o partido e Lula estavam combalidos pelos escândalos.
E não fez isso por duas razões: um pouco por convicção de que seria melhor derrotar Lula nas urnas do que pedir seu impedimento e muito por receio da reação agressiva do PT e da capacidade do partido de mobilizar movimentos sociais. O PSDB teria, então, tido medo do povo? Embora isso não seja dito assim, em última análise é isso mesmo, o partido se intimidou diante da identidade popular do presidente e da competência da máquina petista para arregimentar a militância à reação.

Se Alckmin não crescer nas pesquisas até setembro, PSDB acha ´difícil´ ter segundo turno

O receio não foi baseado em suposições. Na época, quando Duda Mendonça admitiu ter recebido dinheiro ilegal em contas no exterior para fazer a campanha de Lula, um aliado do governo - de esquerda, mas não do PT - chegou a procurar a cúpula do PSDB para sondar a disposição dos adversários e transmitir o "aviso" de que a vingança seria maligna.
Os tucanos superestimaram o efeito da lei da gravidade na política e acharam que Lula cairia de maduro. Agora avaliam que deveriam ter balançado um pouco mais o pedestal, mas os mais sensatos acham que o partido não tinha mesmo organização nem energia para tal empreitada.
Por isso, no projeto de reconstrução a idéia-chave é a reaproximação da política com a sociedade. Para tanto, a reforma é indispensável. Sem ela, o Brasil continuará a fazer política em total descompasso com os avanços ocorridos em outros setores nos últimos anos.
O PSDB quer, para início de conversa, conquistar gente que considera interessada em levar adiante o processo de recuperação do crédito no exercício da política. Deputados como Gabeira e Miro Teixeira são citados explicitamente.
Já a sempre falada aproximação entre PT e PSDB são outros quinhentos. Pelo visto e ouvido, pertencentes ao passado, pois o PT pós-mensalão, acreditam os tucanos, fez opção preferencial pelo atraso.
Para que não se conclua que essa conversa significa uma entrega dos pontos eleitorais desde já, a mudança dos meios e modos de fazer política, na visão do PSDB, será um imperativo também se Alckmin ganhar.
Agora, os realistas confessam: o baque da derrota apressa alterações e o entusiasmo da vitória alimenta a acomodação.

Acácio
A candidata do PSOL, senadora Heloísa Helena, acha "muita graça", mas não toma conhecimento dos conselhos do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, sobre os rumos de sua campanha.
Menos por causa de divergências políticas e mais por uma questão de personalidade: "Infelizmente só faço o que quero", diz ela.

Algo há...
... De muito sério, ou deformado, num país onde o presidente do Senado é acusado de "quadrilheiro" por um deputado e nada acontece.
Ninguém estranha, ninguém pede providências e, principalmente, o acusado não reage. Ou, por outra, age no sentido de corroborar a tese do acusador.