sábado, julho 22, 2006

VEJA A Varig parou de cair


Vendida em leilão judicial, a empresa começa uma nova fase para tentar retomar seu espaço


Ronaldo França

Montagem sobre foto de Fabio Motta/AE
Fotomontagem sobre avião da Varig: a nova empresa decola

A venda da Varig, na semana passada, significou mais do que uma nova etapa na vida da empresa que já foi a maior companhia aérea nacional. Foi um degrau importante no processo de amadurecimento institucional brasileiro. Os novos donos afirmaram a VEJA que não pretendem lançar mão de dinheiro público. Durante o conturbado processo de negociação de venda da Varig, muito se falou sobre a ajuda governamental. Houve até a patética cena de artistas, acostumados às benesses da empresa aérea, reunidos em praça pública a exigir providências do governo. Isso não deverá acontecer. A empresa que surge tentará alçar vôo recuperando, em primeiro lugar, a credibilidade perdida. Para isso, manterá o nome Varig e pretende ter até oitenta aviões nos céus. Hoje conta com apenas cinco. As primeiras providências incluíram a demissão de cerca de 8.000 funcionários e a redução emergencial das operações. Nas próximas semanas, a empresa pretende trabalhar apenas a ponte aérea Rio–São Paulo. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) opôs-se à decisão e exigiu que a empresa mantenha as rotas que vinha operando. A decisão repentina da VarigLog causou transtorno nos aeroportos. O assunto será discutido nos próximos dias. "Em nosso grupo, tudo é feito a partir de números. Vamos manter apenas o que é necessário, mas vamos crescer com credibilidade", afirma Marco Antonio Audi, novo sócio da companhia. A seguir, nove perguntas e respostas para entender o caso.

1. Quem são os novos donos?
A VarigLog, ex-subsidiária da Varig, é dona de 99,9% das ações. A empresa pertence ao fundo de investimentos americano Matlin Patterson e a três empresários brasileiros.

2. Por que ela foi vendida por 24 milhões de dólares, se um mês atrás valia mais de 400 milhões de dólares?
Porque o comprador terá de injetar 485 milhões de dólares a médio prazo. Esse valor inclui o total de passagens já emitidas, de 246 milhões de reais, os créditos do programa de milhagens, estimados em 70 milhões de reais, e investimentos na operação para que a empresa se mantenha viável.

3. O que acontecerá com o Smiles, o programa de milhagens?
Os novos donos garantem que vão honrar todas as milhas. Desde 1997, a Varig integra a associação internacional de empresas aéreas Star Alliance, da qual participam outras 21 empresas. Entre elas estão a Lufthansa, a TAP e a United Airlines. Todas elas aceitam as milhas do programa Smiles.

4. Que linhas nacionais e internacionais a empresa manterá?
Inicialmente, apenas a ponte aérea Rio–São Paulo. Nas próximas semanas, espera aumentar esse número e retomar rotas. As prioridades serão Porto Alegre, Curitiba, Brasília e Salvador. Nos vôos internacionais, serão Frankfurt, Madri e Los Angeles.

5. Por que a Varig chegou a essa situação?
Por uma combinação de fatores. O principal deles foi a má gestão. Também contribuiu para piorar a situação um desastrado congelamento de tarifas, durante o Plano Cruzado. A Varig já ganhou em última instância a ação judicial que moveu contra o governo, e o processo está em fase de execução. Tem a receber mais de 4,5 bilhões de reais.

6. Quem ficará responsável pela dívida?
A velha empresa, Viação Aérea Rio-Grandense, que tem 10% da nova companhia, fica com a dívida de 8 bilhões de reais. Para pagá-la, contará com o dinheiro proveniente da ação contra o governo, a receita com o aluguel de imóveis, uma linha entre Congonhas e Porto Seguro e o aluguel do Centro de Treinamento de Pilotos.

7. Os novos donos pretendem recorrer ao governo para colocar a companhia de pé outra vez?
Não. Os novos donos da Varig garantem que não querem dinheiro público.

8. Será possível a Varig voltar a ser o que era?
Não. A aviação civil não comporta mais o modelo de quase-monopólio do qual a Varig se beneficiou.

9. Essa venda ainda pode ser contestada?
Teoricamente, sim. O sindicato das empresas de aviação, o Snea, já entrou com ação questionando o porcentual de participação de capital estrangeiro na nova empresa. Mas é pouco provável que tenha êxito.