sábado, julho 22, 2006

VEJA Diogo Mainardi


Meu lado Sammy
Davis Jr.

"O míssil C-802 é a prova de que os aiatolás
iranianos
forneceram armas ao Hezbollah.
Eu recomendo atacar os aiatolás iranianos.
Imagino que todos os líderes mundiais
estejam lendo minhas palavras"

Sammy Davis Jr. e eu. Ele era escurinho. Eu sou escurinho. Ele arranjou uma loira. Eu arranjei uma loira. Ele sapateava e tocava xilofone. Eu sapateio e toco xilofone. Ele apoiava Israel. Eu apóio Israel. Sou o Sammy Davis Jr. da imprensa brasileira.

Meu apoio a Israel tem tanto significado para o conflito no Oriente Médio quanto o apoio dos petistas ao Hezbollah. Mas o trabalho jornalístico me transformou num Napoleão de pinel. Fico o dia inteiro esparramado na poltrona, solucionando as grandes questões internacionais. Ontem dei um jeito definitivo na Coréia do Norte. Hoje é a vez do Líbano. Amanhã será um dia particularmente atribulado, porque quero levar meus filhos ao Museu Guggenheim, aqui em Nova York. Se sobrar um tempinho, no fim da tarde prometo derrubar Hugo Chávez.

Israel pode contar com meu inestimável apoio há cerca de seis anos. O que aconteceu seis anos atrás, para que eu colocasse um solidéu no meu cocuruto? O primeiro-ministro israelense Ehud Barak mandou retirar as tropas do sul do Líbano. Espontaneamente. Unilateralmente. Ninguém percebeu direito na época, mas isso representou uma reviravolta na política expansionista israelense. Desde então, Israel só cedeu territórios. Em particular, Gaza, no ano passado.

Na qualidade de Napoleão de pinel, eu ainda defendo essa política de entrincheiramento. Israel deve retornar às fronteiras de 1967, cedendo os Territórios Ocupados aos palestinos e erguendo barricadas contra seus vizinhos. Mas os atentados das últimas semanas demonstraram que a estratégia de trocar terras pela paz fracassou tragicamente. Os israelenses desocuparam Gaza e os terroristas do Hamas aproveitaram para atacá-los. Os israelenses desocuparam o sul do Líbano e os terroristas do Hezbollah aproveitaram para atacá-los.

Israel sabe o que fazer com os terroristas do Hamas e do Hezbollah. Vai matar um monte deles. Onde quer que se encontrem. Se os terroristas se abrigarem num prédio de apartamentos, Israel vai bombardear o prédio de apartamentos, com todos os moradores dentro. Se os terroristas fugirem para a Síria, Israel vai bombardear a Síria, apesar do risco de expandir o conflito. Algumas atrocidades serão cometidas ao longo do caminho. Israel vai seguir em frente. Quer pegar os terroristas e vai pegá-los.

O que os israelenses não podem resolver sozinhos é o caso do C-802. De novo: C-802. É o nome do míssil que, poucos dias atrás, atingiu um barco israelense no litoral do Líbano, provocando quatro mortes. Foi fabricado no Irã. É a prova de que os aiatolás iranianos de fato forneceram armamentos e técnicos aos terroristas do Hezbollah. O Ocidente pode tomar coragem e atacar os aiatolás iranianos. Ou pode simplesmente fingir que o C-802 não foi disparado. Eu recomendo atacar os aiatolás iranianos. Imagino que todos os líderes mundiais estejam lendo minhas palavras. E que pretendam seguir meus conselhos.

Agora chega de botar ordem no mundo. Meu filho está me chamando para sapatear e tocar xilofone.