EDITORIAL |
O Globo |
25/7/2006 |
O escândalo dos sanguessugas começa a ter desdobramentos previsíveis. O esquema de ordenha do dinheiro público montado por Darci e Luiz Antônio Vedoin, pai e filho, sócios na empresa Planam, dependia de parlamentares para apresentar emendas ao Orçamento, com vistas à venda superfaturada de ambulâncias e outros equipamentos a prefeituras. Mas só se sustentaria se, por óbvio, os recursos fossem liberados. Portanto, também era imprescindível acesso facilitado a ministérios-chave. Assim, a história relatada por Luiz Antônio Vedoin, no longo depoimento que prestou à Justiça, sobre a maneira como conseguiu liberar um pagamento de R$ 8 milhões retido no Ministério da Saúde, na gestão de Humberto Costa, hoje candidato do PT ao governo de Pernambuco, é coerente com o enredo do escândalo. Se o depoimento de Luiz Antônio é verdadeiro, isso veremos no decorrer da apuração. A citação feita, em depoimento formal, de um ex-ministro e político de peso do PT e a referência a um suposto propinoduto administrado por um militante do partido, José Airton Cirilo, do diretório nacional petista, não apenas reavivam os piores momentos passados pelo partido no auge do escândalo do mensalão, como também tendem a permitir alguma contaminação eleitoral das investigações do caso. Deve-se lutar contra isso. A CPI, do seu lado, precisa firmar a linha de trabalho objetivo que vem seguindo, sem privilegiar partidos e políticos. É uma missão árdua e imprescindível. Diante de um escândalo de tamanha proporção, só assim será possível preservar a credibilidade da comissão — que não poderá fazer muito, por causa do calendário eleitoral. Mesmo assim, a CPI tem condições de, em nome do Congresso, começar a prestar contas à sociedade, enquanto se espera uma nova legislatura em 2007, para dar prosseguimento às investigações. Se o TSE acatar a tese, como deveria, de que a Constituição permite declarar-se inelegível quem é acusado de corrupção com provas sólidas, já será um grande avanço. A última lista de parlamentares suspeitos de alguma ligação com a quadrilha traz 112 nomes, de praticamente todos os partidos. É possível que haja inocentes entre eles, por terem sido apenas usados pelo esquema. Mais um motivo para rigor e seriedade na apuração. |