Folha de S. Paulo
27/7/2006
Sair de Gaza e cercar a Cisjordânia. No final de 2004, quando estive em Israel, esses temas dominavam o debate público no país, com ampla repercussão internacional. Em lance de notável habilidade política, Ariel Sharon havia abandonado e neutralizado a ala dos falcões do Likud. Com os trabalhistas de Shimon Peres, o premiê lançou o processo que culminaria na retirada unilateral das colônias judaicas da faixa de Gaza.
A barreira de 700 km destinada a dificultar a entrada de homens-bomba em Israel, condenada pela Corte Internacional de Justiça da ONU, já rasgava o norte. Em um posto fronteiriço, entre as cidades palestinas de Tulkarem e Qalqilya, soldados israelenses demonstravam a nova tecnologia de controle para jornalistas brasileiros.
Ao menor toque na cerca, o rock "Another One Bites the Dust", sucesso da banda Queen, disparava em altos decibéis na sala de controle: era o alarme. Uma câmera poderosa localizava de imediato o local da violação, aonde patrulhas chegariam num piscar de olhos. Garotos e garotas recém-saídos da adolescência controlavam todo aquele aparato, revistavam os palestinos que tentavam entrar em Israel. O oficial responsável pela fronteira na região, o decano, tinha 26 anos.
Jovens em verde-musgo com fuzis a tiracolo são parte da paisagem israelense. Para as Forças de Defesa quase todos os cidadãos e as cidadãs confluem no limiar da idade adulta e lá passam anos de sua vida.
Há um ano e meio, a política chegou a propiciar certa esperança de que essa geração de jovens seria aliviada de um grande conflito; que do Exército levaria apenas as novas amizades, a lembrança dos namoros e dos outros experimentos de vida típicos da juventude.
Mas o Oriente Médio desmente rapidamente toda ilusão desarmada. Hoje esses jovens estão destruindo o Líbano, matando mulheres e crianças, perdendo colegas e assistindo à morte de concidadãos vítimas dos foguetes do Hizbollah.