Folha de S. Paulo
27/7/2006
Governos, governos, melhor não tê-los, tão iguais se comportam quando uma eleição se aproxima. Nem é preciso entender de economia, basta olhar para trás e constatar o óbvio: no meio de todo arrocho, de toda a poupança, de tanta gastança, está, absoluto, o calendário eleitoral. É ele que move milhões e bilhões para lá e para cá.
Os altos das páginas de jornais anunciam: "Gasto reduz aperto fiscal no 1º semestre". Cada folha a seu jeito mostra a aceleração das despesas do governo em cima das receitas: expressivos 14% para a administração que sempre se orgulhou de ter contas na rédea curta.
No mesmo período em 2005, deu-se o inverso. Não há maiores discrepâncias nos números. Arrecadou-se menos na primeira metade do ano passado. E gastou-se menos também. O que mudou na dança dos bilhões foram o foco e a fatia do bolo servida ao país.
Aqui, a gente volta a máquina do tempo para a virada do ano e lembra que o atraso na liberação de verbas para projetos do governo virou bate-boca entre os ministros Antonio Palocci, então na Fazenda, e Dilma Rousseff, da Casa Civil. A "briga" foi parar nas manchetes.
Enquanto publicamente Lula apoiava Palocci, o governo ia digitando a combinação do cofre. O presidente precisava ter realizações para mostrar na campanha.
Os gastos crescem juntamente com as explicações: salário mínimo, Previdência, reajuste de servidor, programas sociais etc. Enquanto os técnicos falam, o presidente corre o país mostrando feitos e contas positivas de três anos. Os governos, uns mais, outros menos, uns para o mal, outros nem tanto, acabam achando -de olho no seu voto- que dá para viver melhor em um ano de cada quatro, confiantes de que, nos "anos-sim", o eleitor esqueça um pouco dos outros três.