Lula tem razão ao atribuir os escândalos ao "acúmulo de deformações que vêm da estrutura política do nosso país". Mas, mesmo com essa estrutura, há três categorias: os que não se sujam, os que se aproveitam para financiar suas campanhas e os que, pura e simplesmente, roubam até dinheiro público e potencializam sua "vocação empreendedora", erguendo patrimônios monumentais. Com 112 parlamentares supostamente envolvidos no escândalo dos sanguessugas -que dá náuseas-, trata-se de uma manada sem controle. Não há uma relação de partido, não há compromisso público, não há o mínimo pudor. É evidente que o sistema tem de ser reformado para fortalecer partidos e programas, em vez de mensalões e sanguessugas. Sim ao voto em lista, à fidelidade partidária e ao fim das emendas individuais ao Orçamento, que são a chama da corrupção. No mínimo, transformam deputados e senadores em meros vereadores ou despachantes federais. E dá no que dá. É, portanto, fundamental transformar a retórica eleitoral (hoje apenas embusteira) em reformas reais do sistema. Mas é preciso também cassar o corrupto na origem, na inscrição de candidaturas. Tudo isso, porém, esbarra na realidade: se deputados e senadores são os maiores beneficiários e garantem a impunidade dos culpados, quem irá votar as mudanças? Só criando uma instância multidisciplinar e descontaminada, de fora, para propor as mudanças e obter um pacto de aprovação. Ou o Congresso vota e depois aplica, ou morre. E morre na sarjeta. Num país com um presidencialismo tão poderoso e invasivo, o Executivo teria um papel natural de liderança nas reformas. Mas, como candidatos, todos prometem. Como presidentes, todos se esquecem. Aliás, como o próprio Lula. |