sábado, junho 24, 2006

MIRIAM LEITÃO Visão alemã


O GLOBO

O assunto está sempre de volta ao debate e freqüenta de vez em quando
estudos de bancos. Desta vez, foi o Deutsche Bank a fazer cenários
para o Brasil nos próximos quinze anos. Em várias comparações, o
Brasil não se sai mal, mas continua com algumas velhas fragilidades
que conhecemos bem: educação deficiente, baixo nível de poupança,
abertura comercial ainda insuficiente. Mas o banco aposta que os
próximos 15 anos serão melhores do que as décadas de 80 e 90.

O Brasil tem vários trunfos na corrida mundial por um posto avançado
no clube das economias desenvolvidas e, em várias comparações, sai-se
bem. No aspecto demográfico, tem uma situação ainda favorável: a
população cresce agora a taxas menores, mas o número total de
brasileiros pode continuar crescendo até 2050 e o aumento do número
absoluto de brasileiros em idade de trabalhar terá um efeito positivo
na economia, diz o banco.

O nível de poupança e investimento brasileiro está na lista das
fraquezas, mas, segundo o estudo, tende a aumentar nos próximos anos,
ainda que não chegue jamais a ter dimensões asiáticas. Na última
década e meia, o Brasil passou por uma série de transformações
importantes na área do comércio internacional, abriu a economia e
flutuou o câmbio. Mesmo assim, o grau de abertura da economia
brasileira é menor do que naquelas com as quais compete. O estudo do
Deutsche Bank usa dados do Banco Mundial para dizer que o volume de
comércio do Brasil em 2004, de 27% do PIB, está no mesmo nível da
Índia e muito atrás de China, Rússia e México. O aumento do comércio
pode trazer uma série de benefícios para a economia: cria maior
capacidade de gerar receitas em moeda estrangeira, atrai mais capital
internacional, aumenta a competição com os produtores locais. “Nós
esperamos que a economia brasileira vá continuar se abrindo nos
próximos anos”, apostam.

Um dos nossos calcanhares-de-aquiles é a educação; e não é preciso se
tratar de um estudo profundo sobre o país para logo se constatar que
“a qualidade do estoque de capital humano no Brasil é relativamente
baixa”. Mas há avanços: “Reformas educacionais nas administrações
Cardoso pavimentaram o caminho para a melhora gradual da taxa de
matrícula”, afirmam. Os próximos anos vão mostrar o resultado desse
esforço em anos de escolaridade e em outros indicadores educacionais.

Na área fiscal, o texto chama de “impecável” o passado recente em
termos de cumprimento de metas fiscais. Apesar disso, o temor vem das
projeções sobre a Previdência, que mostram que, no futuro, será mais
difícil manter superávits fiscais. O que piora a situação é a
dificuldade de construir maiorias no Congresso, necessárias para a
aprovação das reformas. Há vários outros pontos positivos, anotados
no estudo, na conjuntura brasileira; um deles, o da queda da
vulnerabilidade externa, na qual houve “uma dramática melhora”. Mas,
claro, “o alto nível da dívida pública continua sendo um importante
fator de risco”.

Os cenários construídos pela equipe de economistas liderado por
Markus Jaeger são de que o Brasil cresça, nos próximos 15 anos, a uma
média de 3,3% anualmente. É um nível baixo na comparação com alguns
países de rápido crescimento, mas é maior do que a média brasileira,
de 2,5%. No cenário mais otimista, o Brasil cresceria a uma taxa de
4% ao ano se conseguir manter a estabilidade macroeconômica e um
aumento da atração do capital estrangeiro. Para isso, precisaria
elevar a taxa de investimento a 27% do PIB. O pior cenário é
continuar crescendo a 2,5% ao ano. O que poderia produzir esse
resultado seria exatamente o que se teme que aconteça no ano que vem:
paralisia decisória por causa de uma base parlamentar fragmentada
após as eleições de 2006.

Para manter a competição com países de rápido crescimento, como
alguns outros emergentes, o Brasil precisa fazer mais reformas, mas o
estudo diz que é mais razoável supor que reformas aqui acontecerão
apenas gradualmente. Apesar disso, o Deutsche Bank é otimista e
aposta que a próxima década e meia será melhor para o Brasil do que
as últimas duas décadas.