CLOVIS ROSSI - O leitor José Rubens da Silva Pontes manda a seguinte
notícia, que considera "saborosa": "O programa Fome Zero,
consubstanciado em medida provisória, está quase pronto para ser
votado na Comissão de Finanças da Câmara. Se nenhum partido recorrer
ao plenário, é possível que, ainda neste ano, siga para o Senado. Com
alguma sorte e colaboração da oposição, o mais prioritário dos
programas de governo poderá estar aprovado para ser implementado em
caso de reeleição! O prazo de cinco, seis anos, parece razoável.
Pobre é paciente mesmo". É, a notícia não deixa de ser saborosa se a
gente conseguir rir da esculhambação. Mas ela é também reveladora da
gravidade de um problema que todo mundo aponta, ano após ano, eleição
após eleição: as instituições brasileiras não funcionam, o Estado
brasileiro tornou-se um mundo à parte, a serviço dele próprio. Em
qualquer país em que haja um mínimo de seriedade, o governo, se tem
um projeto prioritário, faz o diabo para vê-lo aprovado o mais
depressa possível, dentro da lei, claro. No Brasil, para que pressa?
Não é apenas que pobre é paciente, como diz José Rubens, mas o fato
de que a legislação é tão absurda que medida provisória passa a valer
imediatamente, aprovada ou não, mas perde o efeito se, finalmente,
for rejeitada. Se for rejeitada (sempre é possível), quem é que pega
de volta o dinheiro empregado no programa? É claro que o problema
maior está no Congresso, que definitivamente não trabalha. Não é
possível encontrar um só argumento para que um programa dessa
natureza (ou qualquer outro projeto) demore quatro, cinco anos para
finalmente estar pronto para votação. Mas dá para entender: a base
governista estava mais empenhada em receber o mensalão.