sexta-feira, junho 30, 2006

Folha de S.Paulo - Rio de Janeiro - Nelson Motta: Nomes de guerra - 30/06/2006

Assim na vida como no futebol, nome é destino. A começar por ele, o
rei, mais do que um craque, um gênio da bola, um ícone, um grito da
multidão, Pelé!
Em qualquer língua, com ponto de exclamação, jamais seria o rei
jogando como Edson e muito menos como Nascimento. Garrincha não seria
quem foi se fosse chamado de Manuel. Nem Tostão, se fosse Eduardo.
É difícil imaginar Zico ou Didi famosos como Coimbra ou Pereira, que
é como americanos e europeus chamam seus atletas, pelo nome de
família. Tanto que entre nós não há craques chamados Teixeira,
Cardoso, Moreira ou Motta.
Os brasileiros são conhecidos pelo nome próprio, o que já sugere
intimidade, ou melhor, pelo apelido. Exceções: o grande Falcão não
seria tão grande como Paulo Roberto, seria? O virtuose Júnior poderia
triunfar como Leovegildo? E Romário, o que faria como Faria?
É chato dizer, mas existe melhor nome de craque do que Diego
Maradona? Os argentinos gostam de chamar por nome e sobrenome, pura
frescura, mas impressiona. Olha o Maxi Rodriguez, o Hernan Crespo, o
Lionel Messi, o Gabriel Batistutta, craques nominais.
Gente chamada Sandro Mazzola, Gianni Rivera ou Alessandro Del Piero
está marcada para os gols e a glória, os craques italianos se
beneficiam da beleza da língua. Um banal José Silva, no Brasil,
corresponde, na Itália, a um sonoro e inesquecível Paolo Rossi. Os
franceses também tem os seus, como Platini, Tresor, Trezeguet,
Makelelê, mas o melhor é Zinedine Zidane, ZZ, que eles chamam de
Zizou e, no Brasil, certamente seria o popular Zezé.
Já os alemães usam a dureza da língua para nomear os seus, como o
imponente Franz Beckenbauer e agora os temíveis Klose, cada vez mais
perto do gol, e Ballack, mandando bala na bola e no nome.