terça-feira, junho 20, 2006

Folha de S.Paulo - Editoriais: Um mês depois - 20/06/2006

Novos motins são alerta de que o substrato que deu origem à crise na
segurança paulista há 30 dias continua preservado

A PASSAGEM de 30 dias do mais ousado ataque às forças de segurança do
Estado de São Paulo já perpetrado pelo crime organizado foi marcada
pela eclosão de novas rebeliões em presídios. Na tarde de sexta-
feira, três motins foram iniciados, quase ao mesmo tempo, em unidades
do interior paulista. Depois, princípios de revolta se alastraram
para outras cinco unidades.
Apesar de o surto de motins ter sido contido, com a intervenção da
Tropa de Choque da PM nos casos mais graves, a facção que comandou os
atentados de meados de maio, disseminou o pânico na população e quase
subverteu a ordem pública conseguiu dar mais um de seus "recados".
Agora, segundo consta, as rebeliões se destinavam a protestar contra
a internação de um dos líderes do bando no regime prisional mais duro
que há.
O evento serve para lembrar às autoridades e à sociedade que o
substrato que deu origem à crise de um mês atrás continua preservado.
Não existe razão para supor que uma nova onda de atentados seja uma
possibilidade descartada, nem sequer remota. Espera-se que os
gestores da segurança pública em todos os níveis institucionais
estejam aproveitando o momento para corrigir rapidamente as falhas
que favoreceram a articulação e o acúmulo de forças da quadrilha.
A troca na pasta da Administração Penitenciária do governo estadual,
por um secretário ao que parece mais afinado com o da Segurança
Pública, não garante a resolução do problema da falta de integração
entre as duas áreas. Falta muito para o poder público chegar a um
controle eficaz, inteligente e abrangente das comunicações nas
carceragens paulistas -um arranjo capaz de produzir informações em
tempo hábil para prevenir ações mais ousadas e identificar e prender
os agentes do crime organizado que atuam fora das grades.
Enquanto o "estilo PCC" se alastra para fora de São Paulo -haja vista
a sangrenta rebelião no Espírito Santo-, no Congresso, passado o
frenesi dos dias mais dramáticos da crise paulista, o assunto parece
que vai caindo no esquecimento. O "pacote da segurança" aprovado no
Senado no calor dos acontecimentos só deve chegar nesta semana à
Câmara, onde sua tramitação encontrará dois tipos de obstáculos: a
pauta da Casa congestionada por medidas provisórias e projetos de lei
em regime de urgência e os deputados à beira do recesso de julho e
preocupados com a eleição de outubro.
Se tivessem de escolher um tema do pacote, os congressistas deveriam
aprovar o item que amplia para 720 dias o período no qual presos
perigosos podem ficar no regime de detenção mais rigoroso. O ideal
mesmo seria deixar à Justiça a determinação do período no qual um
determinado detento deve ficar isolado, avaliando caso a caso, com a
participação do promotor e do advogado de defesa, sem que a lei
fixasse um tempo máximo.
Tempo, aliás, é algo que autoridades e políticos não têm de sobra se
o seu objetivo é evitar uma nova demonstração de força do crime
organizado em São Paulo.