Minuciosa reportagem do "New York Times" mostra que o governo Bush
está monitorando movimentações financeiras internacionais.
O governo alega que só pesca movimentos de supostos terroristas ou
organizações terroristas. Acredita quem quer. O fato é que pelo
consórcio bancário ("Swift") que mantém a base de dados passam
operações no valor de US$ 6 trilhões diariamente (7,5 vezes mais do
que todo o valor da economia brasileira de um ano, o de 2005).
Some-se ao monitoramento financeiro outra história revelada pelo
"NYT", a do "grampo" telefônico sem autorização judicial, e tem-se um
cenário "Big Brother", o do livro "1984", de George Orwell. Pior:
justamente no país que se orgulha de ser campeão das liberdades civis.
Operações do gênero já foram praticadas no passado. Mas ninguém nos
EUA ligava muito, porque serviam para desestabilizar governos de
países subdesenvolvidos e, ainda por cima, de esquerda. Truques
baixos do tipo ajudaram a derrubar, por exemplo, o governo
constitucional e legítimo de Salvador Allende, no Chile, e a instalar
uma ditadura selvagem.
Tem muito brasileiro que se diz liberal, mas aplaude até hoje a
vilania e a tirania daquela época.
O mais grave é que os Estados Unidos difundem moda em tudo -ou em
quase tudo. Governos com baixo respeito pelas regras -e deixo a você
a tarefa de listar quais deles, na América Latina- sentir-se-ão
tentados a copiar o "Big Brother", ainda mais que sabem que, no
subcontinente, os contrapesos ao Executivo funcionam mal ou, muitas
vezes, nem funcionam.
Ah, o governo Bush também acusa o jornal por divulgar fatos. Versão
manjadíssima da idiotia da teoria da conspiração, muita conhecida ao
sul do rio Grande.