A convenção de ontem do PT formalizou um candidato forte, Lula, com
uma chapa fraca, PT-PRB. Essa é a cara do segundo mandato,
considerado o favoritismo de Lula nas pesquisas e o magro apoio que
ele terá no Congresso. Se o primeiro mandato já é como é na política,
imagine o segundo.
É por isso que Lula atrai o PMDB de Sarney, Renan Calheiros e Jader
Barbalho (é, esse mesmo) e acena com uma aliança dos sonhos com os
tucanos. Aliás, não com "os", mas com alguns tucanos específicos. E
uma aliança apenas tácita.
A tese de Lula, alardeada por seus amigos petistas, é que o PT não
tem opção para 2010. Dirceu caiu, Palocci acabou, Marta não conseguiu
sequer disputar o governo de São Paulo. E Mercadante corre o risco de
perder para Serra.
Serra, aliás, é um dos alvos tucanos das mensagens paz e amor de Lula
e de petistas. O outro é Aécio Neves, tido como virtualmente reeleito
em Minas. Em comum, eles são, digamos, suspeitos de lavarem as mãos
para a candidatura Alckmin, mais preocupados com a deles próprios em
2010.
Ou seja: o recado de Lula e dos petistas-amigos-dos-tucanos é:
"Queridos Serra e Aécio, vamos fazer um pacto de não-agressão agora e
governar juntos a partir de 2007. O pagamento será na próxima
sucessão presidencial".
Isso demonstra duas espertezas petistas: criar uma cizânia no PSDB e
tentar um esquema de governabilidade mais tranqüilo no eventual
segundo mandato. Porque, se os tucanos não forem bonzinhos, o lobo
mau está bem aí: o PMDB. O risco de Lula é o de ficar na mão dos
peemedebistas, o que dará uma tradução curiosa à sua promessa de
"aprofundar as mudanças".
Falta combinar com os adversários: os tucanos. Nem Chapeuzinho
Vermelho acredita em apoio do PT a tucano em 2010.