BIELEFELD - O discurso em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
anunciou o seu prazer em "fazer política para pobre" é um manual
completo do comportamento do político brasileiro.
A regra, anterior a Lula, é a que ele prega: dar "apenas um pouco de
pão" para o pobre, que não quer mesmo mais que isso, sempre na aula
do professor Lula.
Pobres "não têm dinheiro para ir protestar em Brasília, para fazer
passeatas". Ou, na versão mais popular, quem não chora não mama. Há
os que nem precisam fazer passeata para ganhar o "bilhão" que o rico
quer, "quando encosta na gente", sempre segundo Lula.
Banqueiros, por exemplo, "encostados" nos juros obscenos pagos pelo
governo, tiveram lucro de R$ 28,3 bilhões -ou 3,4 vezes mais que tudo
o que se deu de "pão" para os pobres na forma de bolsas-esmola.
Nada contra dá-las, nada contra aumentar o número de famílias
beneficiadas, tudo contra não pôr a esmola em perspectiva. E a
perspectiva é esta: já que o pobre quer apenas "um pouco de pão", é
fácil atendê-lo. Não precisa nem entrar em choque com os poderosos,
dada a abissal diferença de recursos com que o governo contempla uns
e outros.
Não precisa também quebrar a cabeça para fornecer ao pobre os reais
instrumentos de inclusão, que começam por um sistema educacional de
qualidade e incluem uma lista conhecida.
Assim, é de fato fácil fazer política para pobres. Basta pegar um
programa já em andamento, botar mais dinheiro público nele e tocar
para a frente. Como diz Lula, "os pobres não dão trabalho". Nem mesmo
o de pensar soluções para a pobreza, a desigualdade, a educação de
qualidade, a saúde idem, a infra-estrutura, o crescimento econômico
etc. etc. etc. É dar a esmola e correr para o abraço.