FOLHA
SÃO PAULO - Posso estar enganado, mas a sensação que governantes e a mídia transmitem é a de que os ataques do PCC há duas semanas não causaram apenas mortes, mas um tremendo blecaute de idéias e iniciativas. Rápida repassada de fatos e opiniões: 1 - O secretário Nagashi Furukawa, que comandava o sistema prisional, foi demitido ou pediu demissão. Justo. As rebeliões concatenadas nos presídios paulistas, em volume inédito, mostram que ele fracassou na sua missão. Mas o fator PCC mostrou também o fracasso da política de segurança pública do secretário Saulo de Abreu Filho e de seu padrinho, o ex-governador Geraldo Alckmin. Por quê, então, Furukawa sai e Saulo fica? Parece que ao governo interessa mais o que acontece nos presídios do que o que acontece nas ruas da cidade. Ou, em números: preocupa-se mais em controlar/reprimir/tolerar 100 mil pessoas, que são os presos, do que com os 30 milhões que estão fora da cadeia. Até entendo: é muito mais fácil, em tese, controlar 100 mil do que dar segurança a 30 milhões. Mas se supõe que os governos governem para a maioria, conceito que no Brasil caiu em desuso. 2 - A discussão pós-crise está centrada nos crimes eventualmente cometidos pela polícia, em vez de preocupar-se em colocar sob controle o crime organizado, responsável pela violência original. É justo que haja essa preocupação, sob pena de se apagar a fronteira entre civilização, que o Estado e sua polícia deveriam proteger, e a barbárie. Mas não é justo que todas as energias se concentrem nessa questão, sob pena de, outra vez, dar-se mais atenção a uma minoria do que à grande massa de cidadãos que vê direitos básicos violados cotidianamente pela violência.