O velho cientista vai ser homenageado como o pesquisador CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) do ano amanhã. Aos 78 anos, o físico Sérgio Mascarenhas fez parte da segunda geração de cientistas brasileiros do pós-guerra, a geração que brilhantemente sucedeu Carlos Chagas Júnior, Álvaro Alberto, Costa Ribeiro. No discurso em que agradecerá à homenagem, Mascarenhas olhará para trás e relembrará seu mestre e orientador Joaquim da Costa Ribeiro, cujo centenário de nascimento comemora-se neste ano. Costa Ribeiro foi um dos pais da física aplicada no país, primeiro delegado do Brasil no Comitê Consultivo das Nações Unidas para as Aplicações Pacíficas da Energia Nuclear. Depois, Mascarenhas se voltará para o futuro. Ele, que testemunhou o nascimento e a morte de várias ondas tecnológicas, que trabalhou no Bell Labs, o laboratório que deu início à maior revolução da era moderna, a dos semicondutores, está preocupado com a estratégia tecnológica brasileira, não aquela gestada no Ministério de Ciência e Tecnologia -cujo ministro é seu ex-aluno Sérgio Rezende-, mas a esboçada no nível maior das negociações em torno da TV digital. Mascarenhas foi amigo de alguns dos desenvolvedores da tecnologia dos semicondutores e alguns dos Prêmios Nobel que o Bell Labs ostentava em seus quadros. Depois, acompanhou a decadência dos grandes centros de pesquisa e sua substituição gradativa por redes de pesquisadores. Na Embrapa, ajudou a constituir uma rede de laboratórios que se tornou referência mundial. Sem perder a visão de futuro, Mascarenhas deu-se conta de que o novo sistema de pesquisa deveria passar dos atuais planejamentos centrais para um planejamento estratégico mais descentralizado e regionalizado, permitindo o aparecimento de novas lideranças e novas visões mais dinâmicas, pluralistas de nossa sociedade. É nessa condição, e na de decano dos cientistas brasileiros, que chama a atenção para o que considera um engano estratégico grave na formulação de uma política de desenvolvimento tecnológico brasileiro: a importação de fábricas de semicondutores do Japão ou da Europa. Ao longo de sua vasta carreira de pesquisador, Mascarenhas constatou que um país emergente só conseguirá dar saltos tecnológicos se trabalhar na guerrilha, enxergando janelas de oportunidade em novos ciclos tecnológicos, que ainda estão em gestação. Em sua opinião, a próxima crise mundial será deflagrada por dois fenômenos concomitantes: o esgotamento do ciclo tecnológico dos semicondutores, que já entrou em linha decrescente, e a crise de energia. Em ambos os casos o caminho passa pela nanotecnologia. Sua proposta é que, antes da introdução do novo padrão, o governo abra uma ampla discussão com a comunidade científica, esqueça essa história de fábrica de semicondutores (virá ferro velho para cá, garante ele) para que o Brasil possa pegar desta vez o bonde tecnológico correto e não jogue fora a rede de pesquisadores que o ex-ministro Miro Teixeira legou, na sua curta passagem pelo Ministério das Comunicações. |