FOLHA
BRASÍLIA - A gripe aviária está se espalhando e, com ela, o risco da evolução da doença para uma pandemia potencialmente catastrófica. Os fatores para determinar o quanto dessa afirmação é alarmismo são vários, mas tudo indica que o tema irá dominar o noticiário das coisas que realmente importam nos próximos meses. Então, é lícito perguntar: o Brasil está preparado?
Ainda não há a epidemia global, já que o vírus aviário é transmissível para o homem (de forma difícil, mas muito letal), mas ainda não houve a temida mutação que o torne contagioso entre humanos. Um vírus semelhante ao atual foi o responsável pela última grande pandemia, a gripe espanhola de 1918-19, com saldo entre 20 milhões e 50 milhões de mortos.
O Brasil encomendou 9 milhões de doses de Tamiflu, remédio que combate a doença hoje, e está investindo R$ 3 milhões em pesquisas para vacinas. Problemas: além de pouco, o medicamento não é necessariamente eficaz contra uma mutação do vírus, e as pesquisas são demoradas. E mais: se há gente séria envolvida com o assunto, também há a gerência de políticos do PMDB, locatário do Ministério da Saúde, o que não é exatamente garantia de confiabilidade.
Existe outro agravante, este, econômico. O Brasil é o maior exportador de frango do mundo, com US$ 3,5 bilhões ganhos em 2005. É possível vacinar as aves, como a França começou a fazer. Mas a vacinação pode "esconder" o vírus em aves assintomáticas, o que tornaria a produção do país suspeita -o suficiente para dar um grande prejuízo. Como o caso da febre aftosa já mostrou, controle fitossanitário é uma mistura de eficiência técnica e disputa comercial.
Na escala de 1 a 6 da Organização Mundial da Saúde para pandemias, estamos na fase 3. É a última antes da recombinação genética que pode proporcionar tanto mais um passeio da Grande Ceifadora entre nós quanto apenas uma gripe mais forte. Por aqui, alguns passos já foram dados, mas, por ora, torcer pela segunda opção talvez seja a melhor saída.