A maioria dos brasileiros é pobre.
A maioria dos brasileiros pobres é honesta.
Os pobres honestos querem o fim da impunidade dos corruptos.
A soma das três constatações desmonta a fantasia forjada pelos mandarins do PT e alegremente endossada por Lula: entre os temas dominantes da campanha eleitoral, não estará a imensa roubalheira que começou a ser apurada em 2005 e seguirá produzindo filhotes abjetos pelos próximos meses. A gente comum, argumentam os sonhadores petistas, está interessada em outras relevâncias. Não tem tempo com miudezas.
Embora encampada por jornalistas respeitáveis, a tese tem tanta consistência quanto a palavra de Delúbio Soares. As urnas tratarão de implodi-la formalmente. Lula enfrentará uma luta duríssima, sejam quais forem os adversários. E o PT será pulverizado por eleitores decepcionados com os companheiros que confundiram a montagem de um partido musculoso com a formação de quadrilha ou bando.
O PT foi fundado em 1980. As patifarias, sabe-se agora, começaram na primeira infância: dois anos depois, jorravam propinas dos porões de prefeituras conquistadas pelo rebanho de Lula. Petistas muito inventivos descobriram um buquê de flores do pântano na busca de fontes de dinheiro para o caixa 2. Das extorsões contra empresas de transportes ou coletoras de lixo logo se chegou a grossas negociatas.
O aspecto do tumor prenunciava a metástase, consumada com a vitória de 2002. Com a conquista do governo federal, preparou-se a tomada do aparelho de Estado, frustrada por brigas entre os quadrilheiros.
Milhões de brasileiros pobres e pouco informados não são bobos. Cometeram vários equívocos ao longo da saga republicana. Mas são raríssimos os casos de reincidência. Se é que ainda não sabe, a nação dos excluídos saberá durante a campanha que as falsas vestais eram rameiras de cabaré.
Saberá que Lula permanecia agachado atrás do balcão da casa suspeita, fingindo que os pecados eram todos veniais. Como se os clientes fossem apenas compelidos a presentear as anfitriãs com gorjetas por fora. Como se a freguesia não fosse induzida a falcatruas que lesaram o Brasil inteiro.
A incompetência da oposição, a exaustão da imprensa e a máquina de propaganda pilotada por servidores do reino em janeiro e fevereiro explicam os bons índices alcançados pelo candidato à reeleição em recentes pesquisas eleitorais. Os oposicionistas perderam chances sucessivas de formular o pedido de impeachment do presidente - não agiram mesmo quando o lamaçal transbordou para o coração do poder.
Até os mais combativos jornalistas parecem fatigado com a interminável procissão de escândalos. Só isso explica a entediada reação à notícia de que o Primeiro Filho foi brindado pela Brasil Telecom não com R$ 5 milhões - o que já seria um suspeitíssimo excesso de generosidade - mas com R$ 15 milhões.
Despejados em anúncios enganosos, campanhas espertas e louvações de façanhas duvidosas, bilhões de reais procuram remover manchas de lama da faixa presidencial. Mas a campanha vem aí. Pela primeira vez, o estilingue Lula terá de viver, como candidato, papel de vidraça. Ele nunca foi submetido a esse teste. E não faltarão pedradas.
Lula terá de falar, por exemplo, dos amigos Paulo Okamotto e RobertoTeixeira, do filho Lulinha, da cueca dolarizada, das contas de Duda Mendonça, dos trambiques nos Correios, na Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil. Tudo e isso e muito mais.
Haja explicação. Haja inventividade.
[02/MAR/2006]