FOLHA
Tenho procurado expor os argumentos dos principais personagens envolvidos na novela da TV digital, assim como dos consórcios de tecnologia. Um personagem relevante são as empresas de telecomunicações. A Abrafix (que congrega a telefonia fixa, talvez o parceiro mais forte desse jogo) não produziu até agora um documento sequer e diz não ter posição sobre o tema. Já a Acel (que congrega as celulares) montou um trabalho defendendo sua posição no jogo.
Em suma, ela divide a TV digital em dois tipos: a terrestre e a portátil. A primeira é recebida em aparelhos televisores convencionais ou de alta definição de imagem, distribuídos por meio de uma rede montada pelas emissoras. Os serviços são abertos e gratuitos. Já a TV digital portátil é recebida em terminais portáteis (entre os quais se inclui o celular), requer uma rede de TV digital portátil, com maior número de antenas difusoras.
O decreto nº 4.901, de 2003, que instituiu o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTV), trata apenas da TV terrestre. Mas a definição do padrão tem de levar em conta a portátil.
Os radiodifusores querem a possibilidade de distribuir seu conteúdo gratuito sem pagar pedágio para as empresas de celulares. A proposta da Acel é a de um modelo híbrido. Por ele, os radiodifusores poderiam transmitir toda a sua programação gratuita sem pagar nada. E seria montada uma operação integrada para exploração e compartilhamento dos programas sob demanda.
As companhias celulares teriam a acrescentar o seguinte:
1) adaptação do conteúdo à recepção portátil, o que exige uma rede de antenas que só eles têm e um investimento que eles são capazes de bancar;
2) disseminação de terminais capazes de receber conteúdo multimídia;
3) sistema de cobrança dos serviços sob demanda;
4) sistema de atendimento ao cliente.
Para conseguir ampliar a oferta de terminais com funcionalidades avançadas, a Acel fala na necessidade de um modelo de operação que viabilize subsídios privados e equipamentos com escala mundial.
Sem as celulares, diz a Acel, aumentaria sensivelmente a necessidade de investimentos em rede, sistemas de bilhetagem e faturamento e estrutura de atendimento a clientes; não haveria estímulo à popularização do serviço de TV digital portátil, pela não-comercialização, pelas operadoras, do terminal portátil; dificultaria o surgimento de novos serviços convergentes de conteúdo multimídia.
Nesse modelo cooperativo, haveria espaço não apenas para a venda de conteúdo da TV aberta (devidamente adaptado para o novo meio) como de produtores independentes.
A partir daí, comparam-se os dois modelos, o padrão europeu DVB-H e o japonês ISDB-T. Segundo a Acel, o europeu é o único que não restringe tecnicamente a prestação de serviço da telefonia móvel aos atuais radiodifusores. Seria o único com soluções testadas de controle de acesso a conteúdo pago sob demanda. Seria o mais barato, pela adoção mundial do padrão e pela escala e seria o que apresenta maior autonomia de bateria. No fundo, a maior ressalva ao padrão japonês é que ele obriga que a transmissão tanto para terminais terrestres como para portáteis seja feita pelo mesmo operador.
As posições dos diversos atores, assim como os principais relatórios sobre o tema estão no site www.projetobr.com.br.